A mulher na janela do A.J. Finn (Editora Arqueiro, 2018) é um thriller de suspense que acompanha a vida de Anna Fox, uma mulher que sofre de agorafobia após uma tragédia que assola sua família. Essa condição psicológica a impede de sair de casa. Como já está há quase um ano sem contato direto com o exterior, uma das distrações de Anna é acompanhar a vida de seus vizinhos através da janela. Um dia ela pensa ter presenciado um crime na casa em frente e é a partir desse acontecimento que muitas coisas começam a mudar em sua vida. O crime realmente aconteceu ou é fruto da cabeça de Anna que vive a base de fortes remédios e do uso abusivo de álcool? É isso que Anna tenta descobrir.


"A mulher na janela" é um livro cheio de clichês do gênero de suspense, mas isso não seria um problema se fossem usados com mais criatividade e inteligência. Nos primeiros capítulos já conseguimos sacar um dos principais pontos de reviravolta da trama, o chamado plot twist. Sinceramente, acho que um bom plot twist é aquele que você não está esperando e que portanto não imagina que irá acontecer, mas na obra de Finn a gente só fica juntando os pontos e aguardando ele confirmar nossas suspeitas - o que acontece. Essa facilidade da leitura, que diria que nem está ligada à escrita de A.J. Finn que é até fluida, mas a previsibilidade dos fatos acaba prejudicando a obra.

O autor consegue apresentar bem as personagens. Anna Fox tem uma personalidade rica, sua profissão é algo relevante para a narrativa, uma vez que ela é terapeuta especialista em crianças, e também sua condição psicológica aliada ao fato de seu isolamento social poderiam ter sido exploradas de forma a dar mais camadas à história. O autor joga um tapete cheio de possibilidade de trama aos nossos pés, mas depois não faz nada com isso.

As partes mais interessantes do livro estão na relação de Anna Fox com o cinema. Anna é cinéfila e possui um grande acervo de filmes antigos em casa. Em muitas passagens o autor consegue brincar utilizando diálogos de filmes famosos para nos mostrar quem é Anna, em que tipo de história ela está inserida, e até mesmo a própria personagem utiliza de sua paixão pelo cinema para interpretar sua condição e tentar entender seu próprio mistério.

A mulher na janela é um livro para aqueles momentos em que você quer ler apenas por distração. É uma obra que não desafia o leitor e que em pouco tempo pode se tornar irrelevante para sua trajetória leitora. Se existe a tal da literatura de entretenimento, esse é um livro que pode ser catalogado nessa seção. Um filme baseado nesse thriller já foi produzido e acredito que na mão de um bom diretor pode se tornar maior que o livro.