O legado da Vila dos Tecidos da Anne Jacobs (Editora Arqueiro, 2024) é o terceiro volume de uma saga que acompanha a família Melzer, donos de um conglomerado têxtil e proprietários de uma mansão imponente conhecida como A Vila dos Tecidos. Eles vivem em Augsburgo, uma cidade do interior da Alemanha e são a família mais importante da região. Nessa terceira parte da história, estamos no início dos anos 20 e assistindo aos impactos e transformações sociais ocorridos na Alemanha após a primeira grande guerra. O país passa a ser uma República e a cultura e os costumes tradicionais estão passando por verdadeiras revoluções, principalmente em relação à condição das mulheres.


Após enfrentarem o terror da guerra e uma forte recessão econômica, a sociedade de Augsburgo e a família Melzer começam a viver tempos melhores. Parte da família e conhecidos morreram na guerra e por outro lado, crianças nasceram e crescem em tempos de paz, devolvendo parte da normalidade à Vila dos Tecidos.

Os Melzer passam a enfrentar os típicos problemas familiares da época, como a administração da fábrica, da mansão e a educação das crianças. Enquanto isso, continuamos a acompanhar o desenrolar das vidas de cada um dos personagens centrais e dos empregados que mantém a Vila dos Tecidos de pé.

Para quem acompanha a série desde o primeiro volume, é possível estabelecer uma relação mais próxima com a história, os dilemas da família e dos empregados. Como a intenção de Anne Jacobs, é contar a história da família através das gerações, a cada volume ela consegue aprofundar ainda mais no passado e nas aspirações de cada personagem.

Paul e Marie, o casal principal da trama, após enfrentar os preconceitos e constituir uma família, pois Marie passara de ajudante de cozinha a uma Sra. Melzer, começam a passar por uma crise conjugal, que surge por conta de algumas mudanças no modo de pensar da sociedade alemã do pós-guerra.


Marie, que já havia mostrado sua destreza durante a guerra, ao ajudar a salvar a fábrica de tecidos da falência, acaba abrindo seu próprio ateliê de costura e faz um sucesso imediato. Com isso ela passa a incomodar tanto seu marido, quanto sua sogra, que ainda acreditam que a função de uma mulher é cuidar da casa e dos filhos. A relação dos dois fica estremecida, a ponto de Marie deixar a vila dos tecidos juntamente com seus filhos.

Com a condição das mulheres passando por uma revolução, Marie se vê diante do dilema entre priorizar a família ou desistir de seus sonhos. A discussão mais interessante desse livro é justamente o choque entre modernidade e conservadorismo. Os personagens são colocados a prova todo o tempo, em um jogo onde precisam decidir se abraçam os novos tempos ou se viverão lutando, de forma saudosista, por uma mentalidade que não se sustentará.