Zoom do artista húngaro Istvan Banyai (Editora Brinque Book, 1995) é um livro ilustrado genial e cinematográfico. Com suas cores fortes e vibrantes, o artista transporta para o formato livro o movimento realizado pelas câmeras: o zoom. A obra pode ser lida tanto de trás para frente, quanto de frente para trás. Começando a leitura de forma usual, iniciando pela capa, o movimento das imagens é de afastamento. A cada página a ilustração vai se expandindo e revelando parte do universo criado. Começando do lado contrário, a história contada é outra. O leitor parte do macro para o micro.


De um lado, a ilustração nos mostra um super zoom em uma imagem que o detalhe da crista de um galo, algo que só vamos perceber na imagem seguinte, enquanto que do outro lado do livro, partimos de uma visão do nosso planetinha, do nosso pálido ponto azul. Apesar dos caminhos diferentes, transitaremos pelas mesmas imagens, que abrem uma gama de possibilidades de interpretações porque são vistas por ângulos diferentes.


É impossível não se encantar com a surpresa que é proposta a cada página, onde o que se descobre nunca é o que se espera. Enquanto nossa mente cria uma ideia para o cenário que irá se descortinar na próxima página, somos surpreendidos com um resultado completamente diferente.


O livro trabalha muito bem com a exploração de pontos de vistas diferentes, algo que experimentamos a todo momento no próprio ato de observar a vida passando, quanto nas leituras que fazemos de cenários, contextos e até mesmo dos livros.

No artigo “Mediação dialética da leitura: formação de leitores e a construção de conhecimento mediato”, as pesquisadoras Ana Amélia Lage Martins e Fabíola Farias fazem reflexões interessantes e que demonstram como o livro “Zoom” pode servir de instrumento para pensarmos sobre os próprios processos e o potencial das mediações de leitura. Elas argumentam que “a ideia de mediação supõe um caminho, um método de conhecimento que pode ser vislumbrado no livro Zoom: um percurso orientado pelo movimento, pela contradição e pela totalidade, que parte do conhecimento imediato ao conhecimento mediato.”

O que mais chama atenção em “Zoom” é a sua capacidade de surpreender e ele o faz antes mesmo de sua narrativa começar. Assim como fazemos todos os dias, que é tentar entender as situações e as imagens que se apresentam a nossa frente, o livro nos mostra que imagens são fragmentos e que devemos sempre nos perguntar de que contexto elas surgem, quais podem ser suas intenções e se o que vemos é real ou não.

No livro Zoom, é somente quando uma imagem “nega” a anterior, superando-a sem suprimi-la, quando as relações entre os objetos se ampliam e há um estranhamento/reconhecimento de uma nova situação que o leitor pode compreender o todo que metaforicamente traz a narrativa.
Mesmo nas páginas em que Istvan Banyai nos “engana”, mostrando apenas fragmentos de um todo, as ilustrações são bem trabalhadas e cheias de detalhes para nos levar exatamente à essa “nova situação” que Ana Amélia e Fabíola Farias apresentam.

No fim fica a percepção da genialidade dos livros ilustrados. Istvan Banyai desenha de forma literal e metaforicamente a capacidade que uma leitura tem de ser única para cada um que a lê, e como cada página pode conter múltiplas histórias quando vai de encontro com as descobertas, os saberes e a visão de mundo de quem lê.


Leia o artigo "Mediação dialética da leitura: formação de leitores e a construção de conhecimento mediato" AQUI.