Quiosque do Juan Berrio é um livro ilustrado que não possui texto escrito. Toda a história é contada através de imagens e a cada página somos inseridos nas horas de um dia na vida de um personagem. Acompanhamos desde o seu despertar, sua primeira ida ao banheiro, a preparação do café da manhã e demais atividades corriqueiras, até chegar ao seu ambiente de trabalho, que é um pequeno quiosque em uma localidade que pode ser uma praça. Partindo de algo simples, que é a rotina, Juan Berrio faz poesia ao explorar os pequenos milagres que acontecem a nossa volta todos dias e que nada mais são do que a vida acontecendo.



É admirável a maneira como o autor consegue projetar um mundo através das imagens. Apenas observando seu traço charmoso e divertido, podemos projetar toda a personalidade do protagonista. O ambiente e as “entrelinhas” revelam seus gostos, seus hobbies e seu jeito. Para mim, ficou muito clara uma faceta de sua personalidade que é uma melancolia e um tédio sempre presentes, mas que são logo substituídos por esperança sempre que uma possibilidade de troca acontece.


Apesar dela estar ali presente, é uma melancolia que não o paralisa. Quando não está imerso na pintura de suas telas, ou compenetrado em seu trabalho no quiosque (algo que parece levar muito a sério), nosso personagem parece estar sempre a espera de que algo aconteça.

Existe uma espera desenhada no livro, que tanto diz respeito a alguém que precisa de consumidores para manter seu trabalho, como também de uma espera por alguém ou algo para dividir a existência. Portanto, ele é observador. Passa pelas pessoas na rua sempre muito atento ao que está acontecendo, ao passo que as pessoas propriamente ditas, passam por ele como se ele não existisse, ou apenas como se ele fosse mais um na multidão.


“Quiosque” nos transporta para um lugar de contemplação, questionamento e introspecção por nos colocar diante do inesperado da vida. Ainda que tenhamos a possibilidade de planejar os próprios passos, a história de Berrio toca em um ponto sensível, ao demonstrar que planejamento e controle não são páreos para a causalidade da vida e que ao acordamos, nunca saberemos o que poderá acontecer no decorrer daquelas horas e que pessoas seremos ao cair da noite.