O bebê e os livros de Carolina P. Fedatto (Instituto Langage, 2024) é um livro essencial para quem deseja conhecer um pouco mais sobre as discussões que permeiam a formação de leitores na primeira infância. Partindo de seus conhecimentos enquanto pesquisadora e referenciando outros pensadores que também se debruçam sobre o tema, Carolina Fedatto nos mostra que o contato das crianças com o livro, leitura e bibliotecas pode se dar muito mais cedo do que imaginamos. É um livro que convida à reflexão e para isso utiliza das clássicas perguntas que surgem quando falamos sobre livros e leitura para bebês.
Podemos supor que é cedo demais, que eles têm mais com o que se preocupar, que não vão entender nada, que não conseguem se concentrar, que vão rasgá-los ou até mesmo machucar. Mas os livros são bons por quê? O que os livros, só os livros, podem fazer pelos bebês? Quando eles podem chegar? Nessas perguntas meio inocentes cabe muita pesquisa sobre como o bebê lê - ele lê?
Nos capítulos a seguir, Fedatto vai traçando uma linha de raciocínio que demonstra o valor do acesso ao livro e a leitura pelos bebês, evocando o que o ato da leitura tem o potencial de estimular. Em uma fase onde os bebês estão em processo de apreensão do mundo através do toque/textura, dos sons, sabores e demais aspectos físicos e sensoriais, a leitura pode ser mais um instrumento para o desenvolvimento cognitivo, uma vez que estará ajudando a “organizar” o que primeiramente é uma bomba de sensações.
O início do aprendizado do que é e como se lê um livro, é um momento que também diz sobre muitas nuances da interação entre a criança e o adulto que o momento de leitura provoca. Ambos estarão cultivando, criando significações diferentes. Pode ser um espaço onde a criança cria laços afetivos com aqueles que cuidam dela e onde também possam começar a criar mecanismos sobre como lidar com as descobertas e sentimentos de um mundo que estão aprendendo a ver e ler.
O começo da história dos bebês com os livros coincide com o momento em que começamos a encará-los como um sujeito; não mais um objeto das ações do adulto, mas alguém que deseja, se interessa, ouve, presta atenção, fica curioso, se espanta, se recusa, quer saber, quer fazer. Esse é o pressuposto de qualquer oferta de livros a um bebê, o de que ele faz algo com a voz, o outro, os objetos, seu corpo antes de saber ler as letras, as linguagens, as histórias.
Fedatto discorre sobre um fator muito importante, que talvez seja o caráter mais dificultoso do processo de formação de leitores: “exige esforço de presença e da transmissão, da continuidade, da insistência, da troca”. E que a leitura, inclusive para bebês, possui todo o poder de fomentar conhecimento e desenvolvimento cognitivo, mas também de lidar de forma mais saudável com situações de frustração, medo e espanto.
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