Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias é uma coletânea de contos que foi lançada originalmente em 1955. Foi o segundo livro da Flannery O'Connor, escritora que viria a ser reconhecida como uma das principais contistas da literatura americana. Esse ano o livro foi relançado pela TAG Experiências Literárias em parceria com a Editora Nova Fronteira em uma edição caprichada.
O trabalho literário de Flannery é um daqueles casos onde é aconselhável um olho na obra e outro na biografia, na história de vida da escritora. Quando falamos dos contos de "Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias", o entrelaçamento entre ficção e experiências pessoais (da autora) ficam ainda mais evidentes e aumentam nosso processo de imersão na leitura.
Flannery O'Connor foi uma mulher fragilizada pela doença, mas fortalecida nas letras. O que produziu é forte, contundente e um retrato social e humano de uma época. Ela faleceu muito cedo, contudo antes disso, viveu uma vida praticamente reclusa em uma fazenda junto com sua mãe. Nesse período seus maiores hobbies eram a escrita e a criação de pavões.
Nos contos desse livro encontramos muito sobre a visão de mundo hiper realista e irônica de Flannery. Suas histórias e personagens estão longe de serem leves. A autora aborda diversas questões que trazem para debate uma sociedade e humanidade decadente e adoecida. A cada conto O'Connor apresenta algumas nuances das vivências em sociedade, das lutas de classe, dos preconceitos, da condição do negro, das pessoas do campo, da xenofobia, da religião, das relações familiares, das cicatrizes da guerra, do poder. Os contos nos engasgam e nos assustam pela carga de realidade e de coragem da narrativa.
O tom do livro é pesado e Flannery consegue criar esse clima com fluidez da escrita. Enquanto as letras deslizam em nossa frente com toda a banalidade que o projeto desse livro pede _ flertando com o corriqueiro que mora no passar dos dias, de repente somos surpreendidos por brutalidade e perversidade.
"Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias" é um ótimo nome para essa obra que finalizamos cheios de questionamentos sobre a condição do homem a caminho da dita "modernidade", sobre o ser e estar em uma sociedade desigual e cruel.
Os pavões que a autora tanto admirava e que inclusive aparecem em um dos contos, também servem como uma perfeita analogia às temáticas desse livro, que numa primeira olhada estão ali, ao nosso lado, como algo comum e que quando se abrem ao acaso mostram a violência de sua beleza.
A resenha me deixou super curiosa! Já quero ler e quero essa edição belíssima também.
ResponderExcluirSuper indico! Os contos são ótimos.
ExcluirOi. Parece ser um livro bem interessante. Curti a resenha
ResponderExcluirÉ muito interessante sim. Acho que você vai curtir os contos. Obrigado por acompanhar o blog!
Excluir"... a violência de sua beleza." Gostei muito da expressão. Soube acertar no efeito que a arte muitas vezes tem sobre nós e o porquê de governos totalitários buscarem persegui-la.
ResponderExcluirFiquei especialmente encantado com o projeto gráfico. A sua estratégia de mostrar outras partes dos livros, para além das capas, valoriza esse aspecto e acho isso formidável.
Outro ponto que me chamou à atenção foi você mencionar a questão do corriqueiro e da banalidade. É outro grande poder da arte: o objeto não precisa ser épico e grandioso. O olhar da artista o transforma e eleva à condição de eterno. Até mais!
E muitas vezes extrair beleza do corriqueiro é ainda mais difícil que do épico. É preciso ter muita destreza com as palavras pra fazer isso.
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