Nove Histórias de J.D Salinger (todavia, 2019) é o segundo livro escrito pelo Salinger e também o segundo livro dele que leio. O Apanhador no Campo de Centeio é um dos meus livros favoritos, então foi com ansiedade que corri atrás dessa nova edição de Nove Histórias para conhecer ainda mais sua obra.


Como o título já diz existem nove histórias no livro. São nove contos que reafirmam a destreza de Salinger com as palavras. A cada conto entramos em um universo diferente e que é muito bem construído, seja em 6 páginas ou em 18. Salinger pega um ponto focal daquilo que quer explorar na história e destrincha de uma forma que parece que estamos lendo um romance.

Para quem conhece um pouco mais de sua obra é possível perceber uma influência de acontecimentos reais que podem ter impactado ou servido de inspiração para a escrita dos contos. Principalmente a vivência que o autor teve na guerra. Nenhuma das histórias se passa exatamente em período de guerra, mas algumas delas explora de alguma forma os efeitos de um pós guerra. Conseguimos nos aproximar um pouco mais da mente de Salinger e fazer conjecturas sobre os motivos de seu tão famoso isolamento em vida.


Abaixo transcrevo um trecho de um dos contos que acho genial. É um diálogo entre duas personagens:

Nicholson ergueu os olhos para ele, e manteve o olhar - detendo o menino. "O que você faria se pudesse mudar o sistema educacional?", ele perguntou ambiguamente. "Já pensou nisso?"
"Eu tenho mesmo que ir", Teddy disse.
"Só responda essa única pergunta", Nicholson disse. "A educação é a minha pequena obsessão, na verdade - é disso que eu dou aula. Por isso é que eu pergunto."
"Bom... eu não sei direito o que eu ia fazer", Teddy disse. "Eu sei que quase certamente eu não ia começar por onde as escolas normalmente começam." Ele cruzou os braços, e refletiu brevemente. "Acho que primeiro eu ia reunir as crianças todas e ensinar meditação. Eu ia tentar mostrar pra elas como descobrir quem elas são, não só qual é o nome delas e essas coisas assim... Acho que, antes disso até, eu ia pedir pra elas jogarem fora tudo que os pais e todo mundo já disseram pra elas. Assim, até se os pais delas acabaram de dizer que um elefante é um bicho grande, eu ia fazer elas jogarem isso fora. Um elefante só é grande quando está perto de outra coisa - de um cachorro ou de uma mulher, por exemplo." Teddy pensou mais um momento. "Eu não ia nem dizer pra elas que elefante tem tromba. Eu podia mostrar um elefante pra elas, se tivesse um por perto, mas ia deixar que elas fossem até o elefante sem saber mais sobre ele do que o elefante sabe sobre elas. A mesma coisa com a grama, e as outras coisas. Eu não ia nem dizer pra elas que a grama é verde. Uma cor é só um nome. Quer dizer, se você falar pra elas que a grama é verde, isso faz elas ficarem esperando que a grama tenha uma certa aparência - aquela que você considera certa - em vez de outra que pode ser tão boa quanto, e talvez até bem melhor ... Não sei. Eu ia fazer elas vomitarem cada pedacinho da maçã que os pais e todo mundo fizeram elas morder."