Pnin de Vladimir Vladimirovich Nabokov foi a minha 49ª leitura de 2019 e 2ª leitura de um desafio que entrei de volta ao mundo em 50 livros. A primeira viagem foi pelo Brasil através da obra de Clarice Lispector, o livro Água Viva e Pnin me apresentou um pouco da literatura russa.



O curioso é que tanto Clarice como Nabokov fizeram com que eu adentrasse num universo muito confessional e reflexivo. Tanto Água Viva como Pnin faz com que a gente se pergunte o tempo todo qual a porcentagem da história dos próprios autores que está ali.

Pnin conta a história de um professor de literatura russa, Timofey Pnin. Ele é um imigrante russo nos Estados Unidos que possui uma generosidade e uma ingenuidade tão grandes que acabam por embaçar sua visão perante alguns abusos, preconceitos, amizades duvidosas e um amor ainda mais duvidoso.


Durante boa parte do livro acompanhamos as vivências de Pnin dentro de uma universidade americana. O narrador não é facilmente identificado, mas se trata de alguém do ciclo social do professor. O universo acadêmico funciona como terreno fértil para explorar as relações de poder e os preconceitos que afloram mesmo entre aqueles que deviam respirar reflexão. Nabokov usa de um humor debochado para expor os preconceitos de uma nação diante de um cidadão emigrado. No livro o tal do sonho americano é colocado em cheque e como uma máscara social que precisa ser mantida a todo custo, mesmo que os atos e falas sejam de outra ordem.

A dificuldade de adaptação do professor Pnin aos Estados Unidos funcionou para mim como uma artimanha, uma sacada de Nabokov para nos fazer pensar até que ponto um imigrante precisa se introjetar na cultura do país que o acolheu e se vale a pena abrir mão de suas próprias convenções de origem. Vejo a inadequação de Pnin na história como um posicionamento de resistência uma vez que um estrangeiro será sempre um estrangeiro aos olhos dos nativos. É um livro sobre a sociedade e suas idiossincrasias.