O Peso do Pássaro Morto da Aline Bei (Editora Nos, 2017) é um dos livros mais lindos que li esse ano. Publicação de estreia da escritora e foi também vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2018. É um alívio saber que livros dessa densidade e entrega estão no radar dos prêmios literários.


O livro já é uma grata surpresa pela sua estrutura e poesia. Vamos acompanhando a história de uma mulher a partir dos seus oito anos de idade até os cinquenta e dois e desafiados a pensar quantas perdas cabem na vida de uma mulher.

Quando estamos com a personagem aos oito a escrita de Aline faz jus a toda áurea de encantamento, dúvidas e descobertas da infância, que podem ser deliciosas e dolorosas, com sacadas que vem em frases de uma beleza que faz a gente pausar a leitura e respirar fundo.


Aos dezessete a descoberta das sexualidades, assim como as dores vão aumentando gradativamente, demonstrando bem o que é o desafio de viver. Assim, a escrita também vai mudando de tom e incorporando palavras e percepções que a gente vai descobrindo enquanto cresce.

A gente vai crescendo junto com a personagem e entendendo o porque de cada rumo de sua vida. Cada capítulo é o enfoque daquilo que se tornará parte definidora "do ser" da personagem.

Nessa jornada o feminino é o grande tema da obra e sem didatismos vamos avaliando os impactos das perdas, conquistas e lutas na vida de uma mulher. A beleza da oralidade aparece na escrita de Aline Bei e na relação da personagem com as pessoas que passam por sua vida.

O título do livro além de remeter a uma experiência vivida pela própria escritora, também pode ser traduzido para toda a estética e escrita da obra que ao mesmo tempo consegue extrair beleza do belo e das mais intensas dores de uma forma que só a palavra é capaz de fazer.