Assim na Terra como Embaixo da Terra da Ana Paula Maia (Editora Record, 2017) é um livro incrível. Passei todo o meu domingo lendo e não me arrependo. A escrita de Ana Paula é muito fluida, envolvente e com um discurso direto. É um livro curto, de apenas 143 páginas e esse fato deixa claro a destreza da escrita da Ana Paula, pois a narrativa é muito bem construída, assim como personagens.


A história se passa em uma colônia penal que pode estar localizada em qualquer lugar do mundo. Sua localização exata é um mistério para todos que vivem enclausurados ali, aparentemente como uma estratégia de segurança e de evitar fugas. Além de estar em lugar desolado, a colônia também está em processo de decadência total após o anúncio de que a mesma será desativada. A partir desse ponto de partida a autora vai nos apresentando o passado dos detentos a partir de flashbacks, a personalidade violenta do responsável pela colônia e a omissão de seu principal carcereiro.

Aqui, a Colônia quase que se torna uma personagem do livro. É construído um clima de mistério, tensão e luta pela sobrevivência que vai tirando o fôlego do leitor e nos fazendo entrar em estado de espera, juntamente com cada homem vivendo ali.


É um livro cheio de metáforas e uma das mais interessantes é a que nos faz refletir sobre o homem encarcerado. E de quebra dá pra fazer muitas inferências com o sistema penitenciário brasileiro que é um dos mais violentos do mundo.

O confinamento de homens assemelha-se a um curral de animais. O gado é abatido para se transformar em alimento; os homens, por sua vez, são abatidos para deixarem de existir. Não é um lugar de recuperação ou coisa que o valha, é um curral para se amontoarem os indesejados, muito semelhante aos espaços destinados às montanhas de lixo, que ninguém quer lembrar que existem, ver ou sentir seus odores.