FAHRENHEIT 451 de Ray Bradbury (Biblioteca Azul, 2012)

Eu não sei o que eu estava fazendo que ainda não tinha lido esse livro. Ele estava na minha lista a anos e finalmente decidir ler por conta de uma disciplina na universidade que o livro foi indicado. Primeiramente, é assustador pensar que o livro foi escrito nos anos 50. Ele é tão atual que temos a dificuldade de ambientar a história no passado, apesar da narrativa não apresentar datas especificamente.


Assim que terminei o livro fui ler umas entrevistas e declarações do Bradbury e ele deixa claro como uma de suas intenções era fazer uma grande homenagem ao poder dos livros e aos grandes autores, assim como um alerta sobre o perigo dos regimes totalitários, que sempre começam a plantar a opressão com a negação à informação.

Ainda hoje lemos por aí notícias de livros sendo queimados por esse e aquele motivo. Livros sendo censurados e perseguidos por pessoas, grupos, governos que entendem bem o "perigo" da circulação livre de informações. É nesse cenário que a história de Fahrenheit 451 se desdobra.


Vemos uma sociedade onde livros são proibidos e aqueles que insistem em os possuir (clandestinamente) tem suas casas invadidas por Bombeiros que agora passaram a ter a única função de queimar livros e bibliotecas inteiras.

Ray Bradbury explora essa temática de uma forma genial ao demostrar os impactos da falta de acesso aos livros em todos os aspectos da vida humana. Com o quase fim dos livros as pessoas se vêem presas à televisão, que agora funciona de modo interativo, bem estilo Bandersnatch e repito, o livro foi lançado em 1953 e explora outros aparatos tecnológicos que de alguma forma existem hoje. As propagandas dominam criando uma sociedade de consumo. As pessoas já não conversam em praças públicas ou nas ruas e até suas emoções e memória pessoal e social passam a funcionar por outra ordem.

Mas é claro que do excesso de controle logo surge o caos e todas aquelas perguntas que não podiam ser feitas vem a tona. Aqui o livro é importante, mas Bradbury deixa claro no decorrer da história e nos diálogos incríveis que um livro apenas enquanto objeto não é nada de importante se ele não está sendo usado pelas pessoas. As pessoas como o autor diz são bibliotecas por dentro.

Nos tempos antes de Cristo, havia uma ave estúpida chamada Fênix que, a cada cem anos, construía uma pira e se consumia em chamas. Deve ter sido prima-irmã do homem. Mas, toda vez que se queimava, ressurgia das cinzas e novamente renascia. E parece que estivemos fazendo e refazendo inúmeras vezes a mesma coisa, só que com uma vantagem que a Fênix nunca teve. Nós sabemos a estupidez que acabamos de cometer. Conhecemos todas as coisas estúpidas que estivemos fazendo nos últimos mil anos. Desde que não nos esqueçamos disso, que sempre tenhamos algo para nos lembrar disso, algum dia deixaremos de de construir as malditas piras funerárias e de saltar dentro delas. A cada geração, escolheremos mais algumas pessoas que se lembrem disso