A Vegetariana de Han Kang não é um livro sobre vegetarianismo em si. O vegetarianismo aparece aqui mais como uma alegoria para um intento muito maior da personagem principal. É um livro sobre metamorfose.


A história é contada em três partes. Uma mesma história a partir do ponto de vista de três personagens diferentes tentando entender os motivos que levaram a Yeonghye a parar de comer carne com uma obstinação que fere a si e aos seus parentes mais próximos. Yeonghye começa a definhar diante da gente, que assim como os narradores, primeiramente entendemos pouco do que está acontecendo. Nós só conhecemos a "vegetariana" a partir do olhar de seus parentes e das histórias que os mesmos compartilharam com ela.

A Vegetariana é também um livro sobre fugir da dor, da violência e da opressão. Yeonghye é uma mulher comum imersa em um casamento mediano e que chegou a vida adulta quase que sem voz por sempre ter tido uma relação complicada com o pai, um homem opressor e por vezes violento. Durante a leitura nós conseguimos vislumbrar um pouco do que foi essa relação por um acontecimento impactante que define o rumo da história e joga ainda mais confusões em nossa cabeça.


Vejo a decisão de Yeonghye de se tornar vegetariana como uma metáfora para representar uma primeira tomada de decisão de uma mulher submissa, que sempre obedeceu à família e ao marido e que de repente faz algo que ninguém entende e nem pretende entender. A própria reação das pessoas à decisão da personagem representa esse grande assombro de todos ao verem submissão virar resignação. A não aceitação da nova realidade de Yeonghye se transforma em episódios ainda mais violentos, enquanto a família entra em estado de histeria, a personagem vai entrando gradativamente em um estado de letargia. Todos perdem completamente o controle sobre a vida e as decisões de Yeonghye.

Para quem como eu tinha muita curiosidade em ler literatura coreana - fica a dica. O livro foi publicado com o apoio do Instituto de Tradução de Literatura da Coreia (LTI Korea), então acredito que seja uma tradução de qualidade. Vale também deixar aqui um elogio à editora todavia, pois a edição está muito bonita - eu amo demais a capa e a diagramação.