A irmã da pérola: a história de Ceci é o quarto volume da série “As Sete Irmãs” que conta a trajetória de sete mulheres que foram adotadas ainda crianças por um excêntrico milionário chamado Pa Salt. Cada uma delas recebeu o nome de uma estrela da constelação das Plêiades e suas vidas sempre acabam esbarrando com alguma nuance dos mitos que rondam a constelação. Após a morte repentina do pai adotivo, as irmãs se reúnem na casa onde passaram infância e adolescência para prestar uma última homenagem e elaborar o luto. Lá elas descobrem que Pa Salt deixou uma carta para cada, uma pista sobre a família de origem e as coordenadas do lugar exato onde nasceram em uma esfera armilar. A partir daí cabe a cada uma delas seguir as trilhas deixadas pelo pai ou não.


A história de Ceci” começa exatamente do ponto onde termina o volume anterior, “A irmã da sombra”. É impossível contar a história dessas duas irmãs de forma desconectada, uma vez que se tornaram inseparáveis desde que se conheceram. Ceci e Estrela construíram uma relação de dependência não muito saudável e que era foco de preocupação dos demais membros da família. Enquanto Ceci D’Aplièse possuía uma personalidade mais elétrica, aventureira e dominadora, Estrela representava o oposto, sendo também uma pessoa mais introspectiva e de poucas palavras. Ceci se torna a voz de Estrela e Estrela o pouso de Ceci e a representação de um lar. Cada uma a sua maneira precisava encontrar a própria individualidade. Depois de acompanharmos o aflorar da independência de Estrela em “A irmã da sombra”, partimos para a jornada de autodescoberta de Ceci em “A irmã da pérola".

As pistas de Pa Salt levam Ceci para a Austrália. Mais uma vez vemos o cuidadoso trabalho de pesquisa histórica de Lucinda transformado em ficção. A Austrália é um país único, com uma cultura singular e a história familiar de Ceci está ligada ao próprio desenvolvimento de uma região daquele país. A história de Ceci se passa no coração do outback australiano, envolta em arte aborígene e na exploração de pérolas.

Ceci D’Aplièse logo sente que realmente suas origens estão ali, naquela terra que ainda não conhecia e sua procura a leva até uma pequena comunidade no vasto Centro Vermelho da Austrália, a Missão Hermannsburg, perto de Alice Springs. Lá, ela aprende sobre o mais prestigiado habitante local chamado Albert Namatjira, o artista aborígine australiano mais famoso do século XX. Como Ceci também é uma pintora, sua viagem acaba se tornando mais do que uma busca por vínculos de sangue, pois Ceci acaba reencontrando também a inspiração para voltar a pintar.

Entre as personalidades reais que aparecem em “A irmã da Pérola” está o próprio Albert Namatjira e sua relação com Hermannsburg, que foi uma missão luterana fundada em 1877 por pastores do norte da Alemanha, mas logo se tornou uma vila intercultural, abraçando as culturas da Europa e do povo arrernte. Lucinda insere na história de Ceci a maldição da pérola rosada, uma lenda bastante conhecida de uma região da Austrália.

Em muitas entrevistas que Lucinda concedeu na época de lançamento da obra, ela deixa registrado seu encantamento pela Austrália e conta como a suposta maldição da pérola foi um foco de inspiração para sua escrita. "Logo após chegar a Broome, em meio à estação das chuvas, ouvi a história da amaldiçoada Pérola Rosada. Isso pôs um grão de areia na concha do que eu já imaginava para a história de Ceci".

Aparentemente, há mais de cem anos, quando Broome – uma pequena cidade na costa noroeste da Austrália – era o epicentro do comércio mundial de pérolas e conchas, um mergulhador descobriu uma pérola de beleza ímpar. Antes que ele pudesse reivindicá-la, seu mestre mandaçarre a tomou para si.

Porém, durante uma noite de celebração regada a bebida, outro mergulhador roubou-a e vendeu-a para um contrabandista de pérolas roubadas, que foi ludibriado e morto. A maldição da pérola começava a tecer sua trágica teia.

Os assassinos, dois ladrões chineses, foram posteriormente capturados e enforcados por um crime diferente. A pérola acabou nas mãos de um homem que morreu de ataque cardíaco antes que pudesse comemorar sua sorte. O dono seguinte cometeu suicídio após a pérola ser roubada, e o que veio em seguida também foi assassinado.

Ao longo dos anos, a Pérola Rosada deixou um rastro de morte e infortúnio por onde passou, até que, em 1912, Abraham de Vahl Davis, um comerciante de pérolas que trabalhava a serviço do famoso mestre Mark Rubin, teria comprado a joia por 12 mil libras australianas – naquela época, uma soma astronômica. De Vahl Davis embarcou no SS Koombana em sua última e fatídica viagem, e muitos acreditam que a pérola se perdeu no ciclone que afundou o navio, juntamente com todos os 150 passageiros a bordo, em 20 de março de 1912.
Lucinda narra também um naufrágio que realmente aconteceu e que é muito importante para o arco narrativo da história. Ao norte de Port Hedland, na costa da região de Pilbara da Austrália Ocidental, o navio de passageiros australiano Koombana foi pego por um ciclone. O navio desapareceu sem deixar vestígios e não houve sobreviventes. O naufrágio do Koombana ainda é um dos mais graves naufrágios relacionados ao clima na Austrália.

"A irmã da pérola" é um volume cheio de reviravoltas. Ele entrega várias pistas importantes para montarmos o grande quebra cabeças que é a saga em si. A cada volume ficamos mais instigados em relação as motivações de Pa Salt em reunir seis meninas de países diferentes em uma casa e o porque de Mérope, a irmã que representaria a sétima estrela das Plêiades nunca ter chegado até a casa onde as demais garotas foram criadas. A história de Pa Salt é um mistério mesmo para as pessoas que o amavam e até mesmo as circunstâncias de sua morte não são muito claras.