A história invisível da Sofia Nestrovski (Editora Fósforo, 2022) é um livro que conta a história de uma menina de sete anos que resolve fazer um pedido inusitado no dia do seu aniversário: ficar invisível. Na cabeça de uma criança, ficar invisível guarda grandes possibilidades de experiências, de aventuras, descobertas e dá vazão a um dos maiores desejos que acompanham o espírito humano, a liberdade. É quando fica invisível que Sofia mais enxerga. Ela desaparece para parte do mundo para aparecer para um outro. A autora nos transporta para o universo das maravilhas da personagem com um texto poético e fantástico cheio de liberdades que são da escrita da Sofia autora e da Sofia personagem.


A menina queria ficar invisível e “assim ela poderia deixar de ser uma pessoa e começar a virar um mistério. Indefinida.” Fugindo de muitas das convenções e regras sociais através da invisibilidade, ela poderia conhecer realmente e imageticamente o mundo para além dos filtros e até mesmo acompanhada de uma certa dose de rebeldia que o tornar-se “transparente” e não vista possibilita.

Era uma vez duas irmãs. Que então era só uma, eu. Nosso nome é Sofia, mas poderia ser outro. Algum que seja bom de falar. Papoula, gingko biloba, bis-na-gui-nha. Bisnaguinha. Pode ser. Estamos prestes a começar uma aventura, muito longe e sem carro, quando Sofia, ou bisnaguinha era criança. Sofia é um nome bom de falar.
“A história invisível” explora outras formas de existir e para isso foi necessário que Nestrovski buscasse também outras formas de escrever. A autora se ancorou no texto poético e na literatura fantástica e percebemos a existência de um movimento de reconexão com muitos dos sentimentos e curiosidades que temos na infância. Na jornada da personagem, que entra num buraco oco de uma árvore e quase se mimetiza com ela, que conversa com peixe, sapo e árvores é preciso acessar o campo dos sonhos e do simbólico que são típicos do olhar de descoberta das infâncias.

Não foi de imediato; teve que esperar até a manhã seguinte, quando todos tinham acordado, inclusive as xícaras no armário, que tilintavam com o ritmo dos passos pela cozinha – pés de gigantes -, e não a encontraram – os gigantes, a família – em lugar nenhum. Nem procurando de ponta-cabeça. Nem com toda as preocupações das mães empilhadas umas sobre as outras.

Ilustrações: Danilo Zamboni

Sofia caminha por esse mundo fantástico conforme seus passos pedem e sua viagem não tem um destino definido. Ela é movida apenas pela necessidade de conhecer, de descobrir e nesse caminho passa a ser também um foco da curiosidade daqueles pelos quais passa. Sofia é uma menina atrás do “segredo que move o que se move”.

O livro é uma linda e elaborada metáfora sobre crescimento, desenvolvimento e descoberta. A própria necessidade da personagem de fugir de casa, de esconder-se no tronco de árvore para observar a vida e até mesmo de ficar invisível, mostra essa ânsia de emancipação e de movimento que faz parte da nossa natureza. E existe uma exaltação a um olhar infantil que mesmo diante de um mundo do avesso é capaz de olhar para um animal e saber que ele é muito mais que apenas isso.