Heartstopper: um passo adiante da Alice Oseman (Editora Seguinte, 2022) é o terceiro volume dessa série de quadrinhos que já fazia bastante sucesso na internet e no mercado editorial e que recentemente ganhou ainda mais popularidade com a adaptação da Netflix. Assim como os demais volumes, Alice opta por tratar de temas importantes como paixão, namoro, identidade, amizade, relações sociais, saúde mental, família, homofobia de forma bastante leve. Partindo do arco do casal principal, Nick e Charlie, vamos conhecendo outras nuances de seu grupo de amigos que são muito bem construídos e carismáticos.
Como o próprio título já diz, o terceiro volume de Heartstopper trata de um passo adiante. Após todo o processo de se conhecerem melhor e de se apaixonarem, Charlie e Nick agora começam a lidar com a decisão de assumir ou não o namoro para todos. Como estamos falando de um casal homoafetivo, já sabemos o que a decisão de assumir um relacionamento pode acarretar em relação ao contexto escolar, na roda de amigos e perante a família. Charlie que fora tirado do armário a força alguns anos atrás e depois de experimentar a violência do bullying diário tem receios em relação a assumir o namoro por não querer ver Nick passar pelas mesmas coisas que passou. Já Nick carrega consigo os medos compreensíveis de quem está se descobrindo enquanto bissexual e que até então era visto por todos como um garoto super hétero e destaque do time de rugby.
A única certeza que os garotos tem é da paixão que estão sentindo um pelo outro e existe também um respeito pelo tempo de cada um em relação a se assumirem. Assim, o quadrinho possui cenas de derreter o coração e que conseguem levar para as páginas algumas imagens que representam o encantamento, a emoção, os calafrios e a sensação de borboletas no estômago que são próprios das pessoas apaixonadas. Imagina isso tudo somado à adolescência, fase onde tudo possui mais cores e mais intensidade.
Um dos pontos mais bonitos de Heartstopper é a exploração de um contexto que se difere das maiorias das narrativas que se propõe a tratar da temática da homossexualidade e demais manifestações da diversidade. Enquanto muitas histórias focam apenas nas tragédias diárias de pertencer à comunidade LGBT, Heartstopper se propõe a mostrar que pode existir um lado B. Nick e Charlie e os demais personagens não deixam de sofrer com o preconceito, mas a história de Oseman os insere em um contexto onde existe uma rede de apoio. Eles podem se sentir mais a vontade para descobrirem quem são porque existem pessoas que os amam e os respeitam acima de qualquer diferença.
Não satisfeitos em tirar de nós o direito de ser, nos imputaram um dever de dar satisfação sobre nossos amores e nossos prazeres. Heartstopper traz uma reflexão de que se você quiser você pode anunciar em um microfone sua orientação sexual e se você quiser você pode simplesmente viver quem você é sem dar a menor satisfação a quem quer que seja. Cada um tem o direito de escolher quando e como quer que isso aconteça (ou não).
Existe essa ideia de que, se você não é hétero, você tem que contar pra toda a sua família e seus amigos imediatamente, tipo, como se você devesse isso a eles. Mas não. Você não tem que fazer nada até se sentir pronto.
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