Estórias Tétricas do Hugo Tavares (Editora Trevo, 2020) é um livro que nos apresenta pequenas e fortes narrativas sobre como a violência se manifesta em nosso cotidiano. Uma violência que pode acontecer simplesmente pelo acaso e outras tantas, onde nos colocamos como arquitetos da mesma. Um diferencial que chama atenção na obra do escritor paraense H. Tavares é que podemos dizer que "Estórias Tétricas" se trata de um livro de histórias policiais, mas o que confere a característica "policial" embarca em um viés um pouco mais profundo que o mistério e a investigação. "Estórias Tétricas" aborda, por meio do texto literário, o quanto andamos sempre de mãos dadas com a violência e o que podemos definir como sua carga social.


O livro foi mais uma grata surpresa. Cada vez mais fico entusiasmado com o que vem sendo produzido pelos jovens escritores brasileiros. É animador perceber o quanto a nossa literatura contemporânea segue forte, sem medo de apostar nas temáticas e experimentando no que diz respeito às formas de se trabalhar com as narrativas e as palavras. Hugo Tavares aposta em uma escrita rápida, nua e crua que diz o que se propõe a dizer sem deixar de abrir brecha ao que é da conta do leitor: o direito de ler e interpretar conforme suas próprias vivências.

O título do livro é um grande indicador do tipo de leitura que iremos embarcar. Se formos buscar, literalmente, o significado de 'tétrico' no dicionário veremos que ele nos diz que tétrico é: 1. muito triste, fúnebre/ 2. que causa horror; horrível, medonho. Os onze contos do livro caminham exatamente por esse caminho, apostando em uma escrita que é medonha por apresentar manifestações da violência que geram sangue e morte, mas também aquelas que afetam a mente e a forma com que os personagens passam a viver após uma vida muito próxima do que há de mais violento na natureza humana.

A figura do policial, aquele sujeito que dedica a vida ao combate ao crime e a violência e que as vezes se torna o próprio executor desses atos, é apresentado de uma forma nua e crua e, portanto, muito humana. Temos aquele policial que acredita no que faz e que repete sempre para si o mantra da importância de se "atuar dentro da lei" e aquele que após tanta proximidade com a maldade resolve fazer justiça com as próprias mãos ou usar a justiça como uma forma de manutenção do poder.

Em alguns dos contos, que inclusive foram os meus preferidos, acontece um flerte com a literatura fantástica. Enquanto os contos mais realistas exploram a realidade crua das ruas e da realidade, criando uma aura de cigarro, cerveja, violência e corrupção, os fantásticos nos colocam de forma muito sutil atrás de uma cortina de fumaça cheia de insinuações abertas à interpretação.

As histórias ambientadas em Belém do Pará são fortemente marcadas por esse posicionamento geográfico, então podemos perceber muito de Brasil, mas também de algo que é muito regional em histórias que poderiam estar nas manchetes de grandes jornais como também na boca do povo.

Vamos da violência doméstica ao crime urbano em histórias que vemos as pessoas experimentando situações limite e até de vida e morte. Algumas passagens são pesadas e duras e outras apostam em um humor ácido. O tempo todo vamos nos perguntando qual é o limite entre a humanidade e a selvageria, assim como aquilo que nos faz humanos ou seres tomados da urgência de sobreviver custe o que custar.