A história de Ppibi de Song Jin-heon (Editora Positivo, 2015) é um livro sensível que convoca texto e imagem para contar uma história com muitos aprendizados sobre respeito, diversidade, compaixão, convivência, tristeza e amadurecimento. O narrador lembra de sua infância e de sua breve aproximação de um garoto chamado Ppibi, que era tão conhecido quanto ignorado na comunidade em que vivia por todos o considerarem diferente. Ppibi estava sempre sozinho. 


Ppibi é um menino diferente dos outros: isolado, quieto, muito na dele. Certo dia o narrador da história, então um garoto, conhece Ppibi , e os dois começam uma silenciosa relação de amizade e confiança um no outro. Mas, com essa aproximação, o narrador começa a ser evitado pelos outros colegas, como Ppibi sempre tinha sido. Ele é obrigado, então, a fazer escolhas e a lidar com sentimentos complicados, como a tristeza, a compaixão e a culpa.

 A forma como o autor descreve a personalidade, os gestos e a forma de se fechar para o mundo, nos sugere que o garoto apresenta algum nível do transtorno do espectro autista, e por não conseguir agir da mesma forma que os outros garotos agem na escola e nos entornos de uma floresta local - lugar preferido para as brincadeiras das crianças, Ppibi anda sempre sozinho e é julgado pelos comentários e olhares de todos. Mas Ppibi parecia amar a floresta e seguia sempre com seu ritual de embrenhar por algumas trilhas. 

Ppibi levava um punhado de gravetos e batia na cabeça com um deles. Batia com força até o graveto quebrar. Depois começava a bater com outro. Fazendo esses ruídos secos, ele caminhava pela floresta. Até o sol se pôr e sua mãe vir buscá-lo e levá-lo para casa. 

Um dia, o narrador que já se sentia curioso em relação a Ppibi, resolve se aproximar enquanto brincava na floresta e aos poucos se torna uma espécie de companhia nas caminhadas de Ppibi. Nascia uma amizade que era feita de silêncio. O narrador se sentia confiante a embrenhar pela mata na companhia de Ppibi. Com ele não sentia medo. 


O silêncio e as pausas que fazem parte da narrativa do livro são estratégias interessantes para a história que Song Jin-heon nos conta. O silêncio e as pausas aparecem em formato de texto e também são explorados de forma imagética. Temos imagens do narrador em grupo, em convivência com outras crianças, mas sempre com olhos voltados para Ppibi, que até então era exemplo de excentricidade. Quando o narrador passa a caminhar ao lado de Ppibi, as ilustrações exploram uma espécie de abraço da floresta aos dois garotos e o que vemos é imersão e sensação de pertencimento a um espaço.


As ilustrações de Song Jin-heon que utilizam de uma forma belíssima da técnica do grafite, conseguem explorar as sensações e os sentimentos que são apresentados no texto e abrem brecha para que os leitores incluam também as suas.