O bom filho (em coreano 기원 의 기원) foi lançado pela Editora Todavia, em 2019 em parceria com a TAG Experiências Literárias para os assinantes da modalidade TAG Inéditos. É um romance da escritora coreana You-Jeong Jeong, uma das mais célebres autoras de thrillers do seu país. A Coréia do Sul vem abrindo cada vez mais suas fronteiras e o mundo está descobrindo a força do país na música, no cinema e não seria diferente com a literatura. Ainda temos poucas obras coreanas traduzidas para o português e "O bom filho" é uma opção para quem curte uma boa história de suspense.


O livro já começa mostrando a que veio nas primeiras palavras, narrando as poucas lembranças de Yu-Jin: "O cheiro de sangue me acordou. Era um cheiro incrivelmente intenso, como se eu não o absorvesse apenas pelo nariz, mas pelo corpo inteiro. Como se passasse por uma tubo de ressonância, o cheiro se ampliava e reverberava dentro de mim."

É assim que Yu-Jin acorda e ao chegar a área comum de sua casa se depara com o corpo degolado e ensanguentado de sua mãe. O choque e a surpresa tomam conta de Yu-Jin que inicia uma investigação ao seu próprio íntimo sobre o que fez nas últimas horas. Ele não se lembra nada dos últimos acontecimentos e todas as evidências indicam que ele próprio é o assassino da sra. Hye-won Kim. Além de estar sozinho em casa com o corpo da mãe, ele também está com as mãos e as roupas cobertas de sangue.


Yu-Jin era um garoto muito quieto e inteligente. Desde muito cedo demonstrou ter muito talento para a natação, esporte que se tornou sua maior fonte de alegria e prazer. Devido a problemas com convulsões a mãe de Yu-Jin acaba por proibir que o filho siga se dedicando à natação. Ele começa a viver a base de remédios que segundo o narrador o transportam para uma vivência que se afasta do real. Seu maior desejo passa a ser o de se livrar dos remédios e de seus efeitos colaterais para poder voltar a experimentar a realidade.

A sra. Hye-won é uma mulher bem sucedida, que vive numa bela casa, mas que demonstra não ter paz. Seu objetivo de vida é controlar cada passo de Yu-Jin e monitorar seus horários de remédios. A mãe controla cada saída do filho, muitas vezes o leva e busca nos compromissos, além de ser super rígida com os horários que ele precisa estar de volta em casa. Quebrar qualquer uma dessas regras gera punições que as vezes nos parecem exageradas.

Yu-Jin mora com sua mãe Hye-won e com seu irmão adotivo Hae-jin pelo qual devota muito carinho e amizade. Os dois já se conheciam bem antes que ele fosse adotado por estudarem na mesma escola e uma amizade que surgiu na escola com o tempo vai se transformando em amor de irmãos. Tanto Hye-won quanto Hae-jin guardam dores e lembranças inerentes de episódios de morte, enquanto Yu-jin vive em mundo paralelo onde nos parece que o esquecimento é uma estratégia de se esconder das dores ou de algo que não deseja saber.

Mas agora Yu-Jin está diante do corpo morto de sua mãe, seu irmão pode chegar em casa a qualquer momento e sua tia, que também é sua terapeuta, logo perguntará sobre o paradeiro de Hye-won. A partir dessa dilema vamos vagando entre presente e passado dessa família e muitas verdades vão se descortinando através de flashes de lembranças e objetos da casa. Enquanto Yu-Jin limpa o sangue espalhado pela casa com cloro e sabão mais suas recordações vão vindo a tona e são perturbadoras as coisas que se descortinam. Cada personagem tem um jeito de lidar com a morte e ao ler vamos refletindo também sobre como é o nosso.

Li que existem três maneiras de lidar com o medo da morte. A primeira é a repressão. Esquecer que a morte existe e agir como se nunca fosse chegar. A maioria de nós vive assim. A segunda é se lembrar da morte o tempo inteiro, e viver cada dia como se fosse o último. E a terceira é a aceitação. Uma pessoa que realmente aceita a morte não tem medo de nada. 

O Bom filho é um thriller psicológico que procura investigar até que ponto uma pessoa é capaz de ir para extrair sentimento de êxtase e exasperação. É uma história sobre a investigação do íntimo, um olhar pra dentro de si mesmo e do que podemos encontrar. Yu-Jin sabe muito pouco sobre si e vamos descobrindo junto com ele episódios do passado e o desenho do que está por vir. A escrita de You-Jeong Jeong consegue explorar diversos pontos de vistas e nós vamos tentando montar um quebra cabeças complexo para chegar ao fim da trama.