Primavera num espelho partido de Mario Benedetti (TAG Experiências Literárias, 2019) foi lançado em parceria com a editora Alfaguara com curadoria de Julián Fuks que é romacista, contista e crítico literário. É uma história que acompanha as consequências das ditaduras, dos governos autoritários para as famílias daqueles que escolheram lutar pelos direitos humanos e acabaram indo para o exílio. Esse livro foi minha primeira incursão pela literatura uruguaia.
Primavera num espelho partido é um livro sobre liberdade. Seus capítulos são divididos de forma a conhecermos o ponto de vista de diversos membros de uma família que espera ansiosamente pelo fim do exílio de Santiago. Essa família, por sua vez, também precisou se exilar na Argentina. Esposa, filha, amigo e pai de Santiago servem na história como um espelho que emana os reflexos do exílio político para além da prisão propriamente dita. Demonstra como uma família e um preso político podem ser desmantelados pela dor, pela espera, pela ânsia de liberdade e pelo correr dos dias que não para.
Esse correr dos dias irá suscitar muitos debates sobre a força do amor para enfrentar a repressão política. Santiago se vê longe de todos que ama e apenas com a possibilidade de se comunicar com eles por cartas que com certeza passam pela censura antes de serem enviadas. Enquanto resiste a todo tipo de tortura naquelas quatro paredes, Santiago divaga sobre a vida e cria novas narrativas através até da interpretação das manchas de mofo e umidade das paredes.
Cada ponto de vista é muito comovente a sua maneira. Mario Benedetti consegue caminhar para além do sofrimento de quem está preso apenas por pensar diferente e vai mostrando como cada personagem, e mesmo aqueles com uma visão política diferente de Santiago, passam a viver como se também estivessem em uma prisão, pois como diz Rosa Luxemburgo "Só existe liberdade quando as pessoas podem pensar diferente de nós."
Em um dos capítulos, o autor utiliza de uma metáfora riquíssima ao comparar as vivências de quem está em exílio político com aqueles que aguardam seu retorno. Ele ilustra essa relação como uma viagem de trem quando nos detemos à paisagem que corre. Dependendo de que lado estiver sentado é como se a paisagem que corre fora estivesse indo em direção contrária, mas quando viajamos de frente é como se a paisagem viesse a nosso encontro. Para Santiago, preso político, é como se estivesse na posição do trem como se a vida viesse a seu encontro, enquanto para sua família, é como se estivessem do lado onde a paisagem vai se afastando.
Gosto especialmente dos capítulos que evocam a voz de Beatriz, filha de Santiago que é ainda uma criança entendendo o que é o exílio e o porque alguém se torna um preso político.
Primavera num espelho partido é um livro sobre resistência e o próprio título já demonstra isso de forma bem contundente. Prisão, exílio, tortura e até a morte são capazes de interromper a primavera por algum período, mas sempre existirão aqueles que conseguirão sempre enxergá-la através de um espelho que estará trincado, mas que ainda tem a capacidade de ver, sonhar e lutar pela liberdade e dignidade humana. É como disse uma vez Che Guevara: Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira.
Primavera num espelho partido é um livro sobre liberdade. Seus capítulos são divididos de forma a conhecermos o ponto de vista de diversos membros de uma família que espera ansiosamente pelo fim do exílio de Santiago. Essa família, por sua vez, também precisou se exilar na Argentina. Esposa, filha, amigo e pai de Santiago servem na história como um espelho que emana os reflexos do exílio político para além da prisão propriamente dita. Demonstra como uma família e um preso político podem ser desmantelados pela dor, pela espera, pela ânsia de liberdade e pelo correr dos dias que não para.
Esse correr dos dias irá suscitar muitos debates sobre a força do amor para enfrentar a repressão política. Santiago se vê longe de todos que ama e apenas com a possibilidade de se comunicar com eles por cartas que com certeza passam pela censura antes de serem enviadas. Enquanto resiste a todo tipo de tortura naquelas quatro paredes, Santiago divaga sobre a vida e cria novas narrativas através até da interpretação das manchas de mofo e umidade das paredes.
Cada ponto de vista é muito comovente a sua maneira. Mario Benedetti consegue caminhar para além do sofrimento de quem está preso apenas por pensar diferente e vai mostrando como cada personagem, e mesmo aqueles com uma visão política diferente de Santiago, passam a viver como se também estivessem em uma prisão, pois como diz Rosa Luxemburgo "Só existe liberdade quando as pessoas podem pensar diferente de nós."
Em um dos capítulos, o autor utiliza de uma metáfora riquíssima ao comparar as vivências de quem está em exílio político com aqueles que aguardam seu retorno. Ele ilustra essa relação como uma viagem de trem quando nos detemos à paisagem que corre. Dependendo de que lado estiver sentado é como se a paisagem que corre fora estivesse indo em direção contrária, mas quando viajamos de frente é como se a paisagem viesse a nosso encontro. Para Santiago, preso político, é como se estivesse na posição do trem como se a vida viesse a seu encontro, enquanto para sua família, é como se estivessem do lado onde a paisagem vai se afastando.
Gosto especialmente dos capítulos que evocam a voz de Beatriz, filha de Santiago que é ainda uma criança entendendo o que é o exílio e o porque alguém se torna um preso político.
Anistia é uma palavra difícil ou, como diz meu avô Rafael, muito cabeluda, por que em espanhol tem um M e um N que vem sempre juntos (amnistia). Anistia é quando perdoam e retiram o castigo de alguém. Por exemplo: se eu venho da escola com a roupa suja e Graciela, ou seja, minha mãe, me diz vai ficar sem sobremesa por uma semana e depois eu me comporto muito bem e três dias depois trago boas notas em aritmética, então ela me dá uma anistia e posso voltar a tomar sorvete, daquele que vem numa taça canoa e que são três bolas, uma de baunilha, uma de chocolate e outra de morango, o que vem a ser a mesma coisa que me avô Rafael chama de frutillas.
Também quando Teresita e eu estivemos brigadíssimas porque ela me deu um sopapo cheio de barro e passamos quase duas semanas sem dar nem oi e sem emprestar nem a escova de dentes, vi de repente que a pobre estava muito arrependida e não podia viver sem meu carinho e me dei conta de que suspirava fundo quando eu passava e comecei a ficar com medo de que se suicidasse como na televisão, de modo que a chamei e disse olhe, Teresita, vou anistiar você, mas ela pensou que eu tinha chamado só pra xingar e começou a chorar lagrimas cada vez mais fortes até que eu não tive outro remédio senão dizer deixe de ser burra, Teresita, anistiar quer dizer perdoar e então ela começou a chorar de novo, mas com outro choro, porque esse era de emoção.
Primavera num espelho partido é um livro sobre resistência e o próprio título já demonstra isso de forma bem contundente. Prisão, exílio, tortura e até a morte são capazes de interromper a primavera por algum período, mas sempre existirão aqueles que conseguirão sempre enxergá-la através de um espelho que estará trincado, mas que ainda tem a capacidade de ver, sonhar e lutar pela liberdade e dignidade humana. É como disse uma vez Che Guevara: Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira.
Postar um comentário