Breviário do Brasil e outros textos de Agustina Bessa-Luís (Editora Tinta da China, 2016) é uma espécie de ensaio sobre o Brasil. A escritora portuguesa tem uma relação muita próxima do Brasil e faz uma viagem por muitas de nossas cidades, exaltando nossa história, nosso povo, nossa cultura, nossa língua, nossa literatura e a relação Brasil - Portugal. Cheguei até esse livro como parte do desafio "Volta ao Mundo em 50 Livros" onde o Breviário do Brasil foi escolhido como representante de Portugal.
A nota editorial do livro informa que a redação de Breviário do Brasil foi concluída na cidade de Porto, no dia 28 de junho de 1989 e foi publicado pela primeira vez em em 1991. Augustina conhece muito sobre o Brasil por ter uma relação quase familiar com nosso país.
O Breviário do Brasil é como se fosse um diário resultante de uma viagem ao Brasil, integrada ao ciclo "Os portugueses ao encontro de sua história" promovido pelo Centro Nacional de Cultura. O fato de Agustina já possuir essa relação mais próxima com o país, acabou resultando em uma obra que vai para além de descrição de monumentos e de episódios importantes da história do Brasil. Agustina busca fazer uma junção de seus sentimentos e vivências em relação ao Brasil com a aproximação daqueles que realmente representam uma nação: o seu povo.
O olhar de Agustina sobre o Brasil não é de uma mera turista. A escritora tem o cuidado de focar em pontos e características que consegue falar com propriedade. Ela utiliza também de seus conhecimentos como estudiosa e pensadora para contextualizar muitos de seus textos com fatos históricos e reflexões críticas sobre a sociedade. Agustina exalta o Brasil em tudo aquilo que ele tem de rico, de especial, mas não deixa de falar sobre o Brasil que é devastado pela falta de uma educação eficiente, pelos governos incompetentes, pela violência e demais problemas que conhecemos bem. Agustina faz assim como Debret que produziu muito sobre o Brasil, sempre com um tom irônico mas sem perder a sensibilidade.
Agustina faz algumas reflexões muito interessantes, como por exemplo, quando ela fala da construção de Brasília e o sonho megalomaníaco de Nyemeyer e Juscelino. A autora compara Brasília e suas características arquitetônicas a um mausoléu, a um túmulo de Faraó, como se Juscelino não só quisesse entrar para a história como o político que fez 50 anos em 5 mas que quisesse também deixar seu nome marcado para a eternidade. Agustina inclusive brinca que talvez, se Juscelino tivesse vivido mais, hoje Brasília poderia se chamar Juscelina, ao estilo da relação de Alexandre com Alexandria.
É interessante também as percepções de Agustina sobre o Estado de Pernambuco. Ela demonstra uma admiração muito grande pelo Estado, e discorre sobre como esse estado nordestino sempre chamou atenção por seus posicionamentos de resistência. A escritora salienta como Pernambuco, juntamente com as cidades de Recife e Olinda sempre adotaram atitudes cidadãs em relação à política, a cultura e as artes. Durante todo o livro existem muitos relatos sobre diversos Estados e cidades brasileiras, mas Agustina volta diversas vezes a citar Pernambuco.
Agustina Bessa-Luís passa por diversos Estados e cidades e vai tecendo comentários e impressões. Muitas das cidades a escritora já conhecia de longa data. Ela cita inclusive algumas personalidades importantes dessas localidades e nomes ilustres que marcaram para o bem ou para o mal a história do Brasil. Assim, Agustina fala também sobre o povo e suas principais características:
Um ponto que não posso deixar de mencionar sobre essa obra é a presença do escritor Machado de Assis. Agustina é uma admiradora confessa de Machado e demonstra em seu livro como a obra do escritor foi importante para sua formação. Em certo ponto do Breviário ela afirma que não teve grandes surpresas com algumas características do Brasil ao chegar aqui pela primeira vez, por conta de sua experiência com a leitura de Machado. Ela se sentiu familiarizada com ruas, praças e até comportamentos característicos dos brasileiros.
Em uma resenha é impossível abarcar todas as dimensões que o Breviário do Brasil discute. Assim como a obra de Agustina não pretende se bastar e tem a noção de que apresenta apenas um fragmento do mundo que é o Brasil, essa resenha também não conseguiria representar nem metade das temáticas que o livro consegue apresentar. Fica essa dica de leitura para você que me lê e que tem o interesse de conhecer ainda mais sobre o Brasil através do olhar inteligente e sagaz de Agustina. Termino esse texto trazendo mais um trecho da obra que explica um pouco o porque de Agustina escrever sobre o Brasil:
A nota editorial do livro informa que a redação de Breviário do Brasil foi concluída na cidade de Porto, no dia 28 de junho de 1989 e foi publicado pela primeira vez em em 1991. Augustina conhece muito sobre o Brasil por ter uma relação quase familiar com nosso país.
Eu conheci o Brasil assim, antes de cruzar as suas portas com o passaporte na mão. Meu pai, que foi homem rico e proprietário de boa parte da Rua do Ouvidor, no Rio, sentava-se a mesa tarde, como fazem os boêmios, trazendo com eles um sorriso enigmático. Era feito de lembranças de tertúlias e de pactos. Era um homem afável e perigoso. Sempre exerceu em mim uma fascinação reservada. Eu invejava-lhe a vida passada, invejava-lhe o Brasil que ele tinha nas veias como se fosse parente de sangue. às vezes falava do Brasil urbano onde ele viveu vinte e cinco anos. E eu ouvia, com essa incredulidade dos que adivinham a experiência que nos foge pelos abismos do tempo.
O Breviário do Brasil é como se fosse um diário resultante de uma viagem ao Brasil, integrada ao ciclo "Os portugueses ao encontro de sua história" promovido pelo Centro Nacional de Cultura. O fato de Agustina já possuir essa relação mais próxima com o país, acabou resultando em uma obra que vai para além de descrição de monumentos e de episódios importantes da história do Brasil. Agustina busca fazer uma junção de seus sentimentos e vivências em relação ao Brasil com a aproximação daqueles que realmente representam uma nação: o seu povo.
O olhar de Agustina sobre o Brasil não é de uma mera turista. A escritora tem o cuidado de focar em pontos e características que consegue falar com propriedade. Ela utiliza também de seus conhecimentos como estudiosa e pensadora para contextualizar muitos de seus textos com fatos históricos e reflexões críticas sobre a sociedade. Agustina exalta o Brasil em tudo aquilo que ele tem de rico, de especial, mas não deixa de falar sobre o Brasil que é devastado pela falta de uma educação eficiente, pelos governos incompetentes, pela violência e demais problemas que conhecemos bem. Agustina faz assim como Debret que produziu muito sobre o Brasil, sempre com um tom irônico mas sem perder a sensibilidade.
Agustina faz algumas reflexões muito interessantes, como por exemplo, quando ela fala da construção de Brasília e o sonho megalomaníaco de Nyemeyer e Juscelino. A autora compara Brasília e suas características arquitetônicas a um mausoléu, a um túmulo de Faraó, como se Juscelino não só quisesse entrar para a história como o político que fez 50 anos em 5 mas que quisesse também deixar seu nome marcado para a eternidade. Agustina inclusive brinca que talvez, se Juscelino tivesse vivido mais, hoje Brasília poderia se chamar Juscelina, ao estilo da relação de Alexandre com Alexandria.
É interessante também as percepções de Agustina sobre o Estado de Pernambuco. Ela demonstra uma admiração muito grande pelo Estado, e discorre sobre como esse estado nordestino sempre chamou atenção por seus posicionamentos de resistência. A escritora salienta como Pernambuco, juntamente com as cidades de Recife e Olinda sempre adotaram atitudes cidadãs em relação à política, a cultura e as artes. Durante todo o livro existem muitos relatos sobre diversos Estados e cidades brasileiras, mas Agustina volta diversas vezes a citar Pernambuco.
Agustina Bessa-Luís passa por diversos Estados e cidades e vai tecendo comentários e impressões. Muitas das cidades a escritora já conhecia de longa data. Ela cita inclusive algumas personalidades importantes dessas localidades e nomes ilustres que marcaram para o bem ou para o mal a história do Brasil. Assim, Agustina fala também sobre o povo e suas principais características:
O brasileiro vive com a impressão de que pesa sobre ele qualquer coisa de sinistro. O choque do pensamento afeta-o desde que o poder da ligação com a natureza afrouxou ou se perdeu. O espectro da sua angústia é duma grande vivacidade, motivo por que os brasileiros parecem alegres e superficiais. Não o são. Há neles uma aceleração notável do cruzamento de ideias, como acontece nos sonhos de pânico e catástrofe. O brasileiro espera da surpresa o que não pode mais esperar dum poder superior, seja do governo, seja, acima dele, de caráter teológico.
No Brasil, o sentido da liberdade é o de querer a alegria e o de achar que a tristeza é contrária à natureza. Por isso ponho muito da minha confiança no povo do Brasil. Ao preferir a alegria, não é leviano nem insensato
Um ponto que não posso deixar de mencionar sobre essa obra é a presença do escritor Machado de Assis. Agustina é uma admiradora confessa de Machado e demonstra em seu livro como a obra do escritor foi importante para sua formação. Em certo ponto do Breviário ela afirma que não teve grandes surpresas com algumas características do Brasil ao chegar aqui pela primeira vez, por conta de sua experiência com a leitura de Machado. Ela se sentiu familiarizada com ruas, praças e até comportamentos característicos dos brasileiros.
Em uma resenha é impossível abarcar todas as dimensões que o Breviário do Brasil discute. Assim como a obra de Agustina não pretende se bastar e tem a noção de que apresenta apenas um fragmento do mundo que é o Brasil, essa resenha também não conseguiria representar nem metade das temáticas que o livro consegue apresentar. Fica essa dica de leitura para você que me lê e que tem o interesse de conhecer ainda mais sobre o Brasil através do olhar inteligente e sagaz de Agustina. Termino esse texto trazendo mais um trecho da obra que explica um pouco o porque de Agustina escrever sobre o Brasil:
As vezes , no decorrer desta viagem, perguntam-me o que penso do Brasil. Pergunta rotineira, mas a que eu respondo como se ela fosse a principal: em todo o mundo nós somos como um rebanho mandado para o matadouro enquanto nos preparam para vencedores. Mas no Brasil há ainda uma espécie de predestinação que é o que faz a esperança de um povo. Em toda a parte se toma a ocasião pelo mandamento; e isto faz com que as pessoas traiam a abundância do bem que há em todos nós. No Brasil, onde muitas mudanças se operam, eu notei no homem comum um respeito profundo pela bondade que, de certo modo, não se adapta ou se cultiva como identidade coletiva, mas que nãos está condenada. De repente, ela está presente, arde como uma lâmpada, aparece como o maior dos direitos humanos.
Nossa, adorei essa resenha e fiquei muito interessada em ler esse livro, que não conhecia. Estou curiosa para descobrir mais livros e autores com esse desafio da TAG.
ResponderExcluirMuito legal essa admiração dela por Machado de Assis.
ResponderExcluirAdorei a resenha. Interessante a visão da Agustina em relação ao Brasil e suas peculiaridades que deveriam ser aproveitados em aulas de história. Uma visão diferenciada de contar a história de nosso país.
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