A Luz Difícil de Tomás González (Bertrand Brasil, 2013) estava na minha estante faz um tempo. De repente entrou no meu foco de visão e em segundos decidi que seria minha próxima leitura.


A Luz Difícil foi o primeiro livro de González lançado no Brasil. É a história de uma família Colombiana que vive nos EUA. O narrador David é um pintor e pai de três filhos que é obrigado a esperar a morte de seu filho mais velho com data marcada. Jacobo sofreu um acidente de carro, ficou paraplégico e uma das sequelas do acontecimento trágico foi a presença constante de uma dor que o narrador mal consegue descrever de tão forte. Em certa parte do livro o pai nos conta que em raros momentos onde o filho sorri era possível perceber seus olhos marejados pela onda de dor.

Assim, Jacobo decide morrer. Embarca em uma viagem com seu irmão Pablo que quase abriu mão de sua individualidade para amenizar seu sofrimento. Para conseguir realizar a eutanásia eles precisam atravessar para um Estado onde o procedimento é permitido e onde um médico já os esperava.


Fazendo recortes de tempo geniais, explorando passado, presente e futuro vamos conhecendo mais sobre essa família e muito mais sobre David e esse episódio que causou um grande trauma em sua vida. David narra seu grande amor pela esposa, pelos filhos, pela arte e sua incursão na pintura de uma tela que trabalhava em busca da perfeição - em busca de uma luz que representasse bem as ondas d'água contidas na obra que trabalhava e que nos remete ao título do livro.

Conhecemos muito pouco sobre as características e questões do filho que está para morrer, pois o foco da narrativa está todo em David e as consequências da espera da morte. Podemos perceber a luz difícil no trabalho artístico do pintor, mas também na busca por alívio representada na decisão pela eutanásia e pelo fato de que David, que nos leva ao futuro com seu relato está ficando cego e necessita cada vez de mais luz para conseguir ler e escrever. A luz difícil tem a ver também com a racionalidade, com a lucidez de temas em que geralmente deixamos a paixão e o desespero reinar.

Vinte anos após a morte de Jacobo seu pai resolve escrever suas memória, a fim de resgatar os sentimentos e refletir sobre o peso da espera. É um livro com uma premissa muito triste mas é narrado com tanta beleza que o sofrimento nos acompanha durante a leitura mas as passagens reflexivas sobre vida e morte são protagonistas.