Água Viva da Clarice Lispector é daqueles livros que merece ser revisitado vez ou outra. É daqueles livros que dá vontade de sair fazendo marcações a cada frase, que dá vontade de chamar a pessoa mais próxima e ler pra ela aquele trecho impactante que você acabou de se conectar. Clarice consegue fazer isso tudo ao se debruçar em uma escrita que explicita para o leitor as dúvidas, reflexões, angústias, medos, iras, alegrias, sensibilidades de uma pintora que olha para o mundo, para as pessoas, para as coisas com a ânsia de captar mais do que se vê.



A nossa narradora vai fazendo links entre o processo de pintar, o processo de escrever, o processo de pensar e ao fazer isso vai nos levando a refletir sobre todas aquelas questões que a gente evita pela complexidade. Morte, vida, natureza, o sagrado, solidão, o porque de ser e estar no mundo nessa ou naquela condição. A estrutura do texto também é um desafio sem enredo, afinal reflexão vem aos baldes quando se inicia.


Chama muita atenção a forma sincera com que o livro parece ter sido escrito. Ele parece o resultado final da explanação das dúvidas em seu estado mais bruto sem deixar de ser profundo, assim que brota na nossa mente e com a mesma sinceridade e rapidez ela vai introduzindo outras temáticas como se tivesse acabado de lembrar e não pudesse deixar passar. Cabe a nós leitores acompanhar seu fluxo de consciência e nos conectar com aquilo que fizer sentido no momento.

O livro "Água Viva" coloca a gente de frente para o que vem antes e depois do pensamento. Diante daquilo que por não ter resposta respondido está.