As últimas testemunhas de Svetlana Aleksiévitch (TAG - Experiências Literárias, 2018). É uma leitura que dói e nos faz refletir sobre os horrores da guerra e até que ponto o medo e o ódio podem retirar a humanidade das pessoas. Ao mesmo tempo o livro faz algo muito interessante que é trazer relatos de pessoas que viveram a Segunda Guerra Mundial quando eram crianças. Os depoimentos são fortes e emocionantes e revelam um outro lado da história - a visão daqueles a quem a proteção deveria ser algo a ser garantido.


De cara chamaram minha atenção duas coisas: como as crianças são sempre "poupadas" de temas difíceis e como a grande maioria dos relatos mostram que enquanto os adultos já sabiam da eminência de uma guerra, as crianças só a descobriam ao verem seus pais partindo para o campo de batalha, ao verem os aviões inimigos sobrevoando as cidades e muitos até ao verem bombardeios que chegavam de surpresa sobre suas cidades, assim como corpos queimados, mutilados - para muitos o primeiro contato com a morte.

Segundo ponto: a presença do livro e da leitura para amenizar a realidade. Em várias histórias existe a presença da literatura como meio de entender e como ponto de fuga da guerra, como meio de esboçar uma normalidade em tempos de medo, morte e fome.


E também todos líamos muito. Como nunca... Lemos e relemos a biblioteca infantil e juvenil. E começaram a nos dar livros de adultos. As outras meninas tinham medo... Nem os meninos gostavam, pulavam as páginas onde se escrevia sobre a morte. Mas eu lia. Taíssa Nasviétnikova, 7 anos.

Depois de um bombardeio, ficou na minha memória um monte de livros entre as pedras destruídas; peguei um, ele se chamava A vida dos animais. Um livro grande, com ilustrações bonitas. Não dormi a noite toda, fiquei lendo o livro e não conseguia largar... Lembro que não peguei livros de guerra, já não tinha vontade de ler sobre isso. Mas sobre animais, pássaros. Volódia Tchistokliétov, 10 anos.