Atmosfera: uma história de amor da Taylor Jenkins Reid (Editora Paralela, 2025) é um romance que mistura elementos interessantes. Temos a imersão no tema universal e inesgotável do amor, a exploração dos mistérios que rondam o nosso planeta e como a observação dos astros e do universo pautam a nossa forma de olhar para fora e para dentro de nós. É uma história que se passa por dentro dos nossos sentimentos e dos nossos afetos, tendo como pano de fundo os corredores da NASA e toda a mística que envolve a formação dos astronautas.


Para tanto, acompanhamos a vida de Joan Goodwin, uma professora universitária completamente focada em seus objetivos, na sua formação acadêmica e que se depara com a oportunidade de ingressar na maior agência espacial do mundo. Joan, é uma mulher que preza pela ética em todos os campos de sua vida e em seu trajeto, as relações familiares serão um dos seus maiores obstáculos.

A exploração espacial exige preparação em vez de impulsividade, tranquilidade em vez de ousadia. Para um trabalho tão arriscado, pode ser bem entediante e rotineiro. Todos os riscos são avaliados de forma minuciosa. Nada é improvisado. Não existem aventureiros aqui.
A história se passa em meados dos anos 80, exatamente no período em que a NASA começava um de seus projetos mais audaciosos, os ônibus espaciais. Depois de passar por um criterioso processo de avaliação, Joan inicia seus treinamentos no Centro Espacial Johnson, em Houston. Nesse ponto da história, conhecemos o lado humano de cada membro da equipe de futuros astronautas que ingressaram junto com a personagem.

Costumamos olhar para os astronautas como uma espécie de semideuses, principalmente pelo fato de representarem uma porcentagem mínima da população a ter a oportunidade de ver nosso planeta de fora. Em “Atmosfera”, Taylor Jenkins mostra cada um deles lidando com suas ansiedades e a constante necessidade de serem “perfeitos” para alcançarem o lugar que desejam na agência espacial.

Entre os membros da equipe, Joan conhece a enigmática engenheira aeronáutica chamada Vanessa. Em pouco tempo, as duas estabelecem uma relação bem próxima, ainda que tenham temperamentos diversos. O que parecia apenas afinidade, vai se transformando em uma linda história de amor.

A relação às escondidas de Joan e Vanessa, obedecem às restrições impostas pelos anos 80, em relação à homofobia, como também ao medo sempre presente de serem rebaixadas em seus cargos na NASA por conta da orientação sexual. Assim, a história relata muito bem, os desafios de ser mulher e lésbica naquele período e como astronauta da maior agência espacial do mundo.

Fora isso, Joan lida com uma relação conturbada com sua irmã Bárbara, que é uma personagem odiosa. Bárbara engravida após uma relação casual e sem importância e precisa lidar com a realidade de ser mãe solteira. Como possui uma personalidade manipuladora, usa e abusa da ética e da boa vontade de Joan, que aos poucos vai tomando para si uma responsabilidade que poderia prejudicar seu momento profissional. Acontece que seu amor por sua sobrinha é maior que seu amor pelas estrelas e o universo.

Todos os dias, a Terra continua em rotação e translação pela Via Láctea, sempre em movimento. É por isso que o tempo nunca para. E é por isso que, por menores que fossem, a soma das escolhas de Joan viraram algo magnífico. Ao longo das estações dos quatro anos anteriores, Joan encontrou tudo.
A narrativa é construída de forma não linear. Transitamos entre uma missão espacial que mudará para sempre a vida de Joan e Vanessa, enquanto acompanhamos também os últimos quatro anos, desde que elas entraram para a NASA. Nos capítulos que nos remetem ao passado recente das protagonistas, conhecemos a dinâmica da relação entre os astronautas e a construção da história secreta de amor entre Joan e Vanessa, enquanto lidam com as questões profissionais e familiares.

Com uma narração envolvente e fluida, somos convidados a refletir sobre o amor e suas complexidades. Tudo gira em torno de como a vida está sempre nos colocando diante de situações onde precisamos balancear onde queremos chegar e para onde nossas escolhas nos levarão. A temática das estrelas e do universo, dão um toque especial à escrita, pois ao nos fazer olhar para nosso tamanho na imensidão do universo, só nos resta pensar que o segredo de uma vida plena está na coragem de ser quem somos.