A morte é assim? 38 perguntas mortais de meninas e meninos da Ellen Duthie, Anna Juan Cantavella e Andrea Antinori (Baião, 2024) é um livro infanto-juvenil com uma ideia simples e genial, principalmente pela temática que aborda. As autoras convocaram crianças de diversos países (entre cinco e quinze anos) para enviar perguntas sobre a morte e fico imaginando a dificuldade de selecionar as melhores. O livro, que levou três anos para ficar pronto, recolheu perguntas instigantes, engraçadas, sérias e inspiradoras que demonstram diversas peculiaridades sobre a morte através do olhar das crianças.
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Ainda que o livro seja formado por perguntas que vieram de países como Espanha, Itália, Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Colômbia, México, Argentina, Equador, Brasil e Turquia, conseguimos perceber algo fantástico, que é uma universalização do que é ser criança e de que molde é formado sua curiosidade sobre vida e morte. Diante das perguntas, torna-se impossível saber de que cultura, de que país essa criança fala. Uma pergunta feita por uma criança brasileira, poderia facilmente ter sido feita também por uma criança turca.
O livro chama atenção pela sua proposta e principalmente pelo tema que aborda. A morte, que ainda é um tabu para a maioria dos adultos, torna-se um assunto ainda mais distante quando falamos sobre as crianças. Temos uma falsa ideia de que ao afastar as crianças de temas mais difíceis como a morte, estaríamos protegendo-as de algo, quando na verdade estamos contribuindo com uma espécie de ignorância, de falta de apreensão da realidade que afetará seu desenvolvimento.
A ideia surgiu porque a morte é um assunto que interessa muito a nós, as escritoras, como também acontece com a maioria dos seres humanos. Nós duas pensamos que é um tema do qual se fala muito pouco apesar de ser tão fascinante, e por isso decidimos produzir um livro sobre a morte que desse o que falar. Outro grande interesse nosso são as perguntas (não existe nada que a gente goste mais do que uma boa pergunta!), então desde o começo estava claro que elas deveriam ser as protagonistas do livro.
Na leitura nos deparamos com perguntas como: “eu vou morrer?”, “como a pele desaparece?”, “quando morremos, o corpo morre todo de uma vez?”, “por que temos de morrer?”, “por que há pessoas que se suicidam?”, “por que as vezes não deixam as crianças da família verem os mortos?”, “como vou saber que só dormi, e não que morri?”
A forma como as autoras respondem às perguntas é inteligente e cuidadosa. Elas apostam em um texto que brinca com as perguntas, mas que também trazem informações relevantes para embasar suas respostas. Com uma linguagem acessível, elas apresentam informações científicas (quando necessário), demonstram o caráter filosófico e social que a morte carrega consigo e também discutem sobre aspectos sobre a morte, onde não existe uma resposta, só suposições.
O livro possui um projeto gráfico que já ganha os leitores pela capa. Andrea Antinori, que é um ilustrador premiado, recebeu a missão de ilustrar a obra sem ter acesso ao texto das autoras, ou seja, seu ponto de partida foi apenas as perguntas das crianças e essa estratégia fez toda a diferença no contexto do livro. As ilustrações captaram de forma muito divertida o nível de curiosidade das crianças, pois assim como as autoras, Andrea Antinori precisou interpretar a natureza de cada pergunta.
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