O Homem-Espelho de Lars Kepler (Editora Alfaguara, 2023) é mais um volume da série de romance policial do investigador Joona Linna. Lars Kepler é o pseudônimo usado pelo casal de escritores suecos Alexandra Coelho Ahndoril e Alexander Ahndoril. Os dois possuem sua própria obra literária, são escritores reconhecidos em seu país e a série Joona Lina é um projeto que já está em seu oitavo livro. Os suecos possuem um jeito muito peculiar de escrever romances desse estilo. Eles apostam em uma narrativa rápida, violenta e muito soturna, onde as características e personalidade dos vilões são construídas em detalhe.
Jenny Lind, uma adolescente de dezesseis anos, é sequestrada em plena luz do dia. Jogada na carroceria de um caminhão, ela é levada para um lugar onde enfrentaria seus piores pesadelos. Cinco anos depois, numa noite chuvosa, seu corpo é encontrado em um parque, pendurado num gancho.
O grande diferencial das histórias criadas pelo casal Ahndoril está na capacidade de criar vilões memoráveis e de conseguir segurar o clímax da revelação de sua identidade e suas motivações até as últimas páginas. Enquanto leitores, ficamos completamente obcecados pela construção dos vilões, pois todo o texto é construído em cima de enigmas, metáforas e diversas referências que vão nos encaminhando para a resolução dos crimes.
Assim como a personalidade do vilão é fundamental para a narrativa, temos também a figura do investigador Joona Linna. Sua inteligência e capacidade de percepção dos detalhes é impressionante. Joona consegue começar a desenhar um caso a partir de detalhes muito pequenos da cena do crime e de informações que retira de uma simples palavra proferida por um suspeito ou até de uma reação sutil. Apesar de sua genialidade, Joona está sempre envolto em problemas, pois ela não poupa esforços para resolver um mistério. Mesmo que tenha que utilizar de métodos nem um pouco éticos.
Em “O Homem-Espelho” os investigadores se veem diante de um dos casos mais difíceis até então. O pouco que sabem é que estão diante de um serial killer que sequestra meninas adolescentes e seus corpos aparecem anos depois, o que demonstra que elas ficam em cárcere privado e sendo mantidas vivas por muito tempo. A única testemunha de um dos crimes e que pode ajudar a solucionar o caso, é um homem que sofre de um grande trauma psicológico que o impede de perceber a realidade com clareza e até de se comunicar.
Isso se aplica a cada um de nós: se não formos capazes de suportar a visão de nós mesmos refletidos no espelho de nossas memórias, tampouco conseguiremos sofrer o luto por aquilo que aconteceu, superar e seguir em frente. Pode parecer um paradoxo, mas quanto mais tentamos ignorar as partes dolorosas da vida mais poder elas têm sobre nós.
A história que já é fluida por conta de sua própria narrativa e de seus capítulos curtos e cheio de reviravoltas, ganha ainda mais intensidade com a nossa ânsia de chegar ao clímax do livro. Os autores trabalham muito bem com uma mistura de horror e drama psicológico, onde não podemos nos apegar a nenhum personagem, pois na página seguinte eles podem já não estar mais respirando.
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