Vinte e poucos do Igor Tavares (Editora Folheando, 2024) é um livro que reúne diversas poesias escritas pelo autor nos últimos anos e que tratam de temas diversos. Suas reflexões vão desde o amor a questões relacionadas à sociedade. Os textos apostam em uma prosa poética que causa uma rápida identificação com os leitores, pois apostam em situações que dialogam com questões corriqueiras, aparentemente banais, mas com um olhar que pode ser romântico, provocador, sarcástico, engraçado e que sempre nos leva a pensar em um lado B da vida e até mesmo descortinar um modo de olhar que sempre esteve ali, debaixo dos nossos olhos.


O livro abre fazendo referência a um escrito de Paulo Leminski que diz: “só existe um segredo/tudo está na cara” e quando chegamos ao final da leitura de “Vinte e poucos” percebemos o quanto a escolha por esse trecho representa bem a obra. Enquanto vivemos à beira da exaustão, em um mundo que nos desafia o tempo todo, acabamos também nos vendo diante de mistérios que, no fim das contas, não são tão misteriosos assim.

A prosa poética de Igor nos provoca ao dizer que talvez as verdadeiras respostas da vida já estejam todas respondidas por si só, como no poema “ao planetinha”, onde Igor conversa com Plutão e conclui: “todos nós descobrimos depois/que éramos outra coisa/ desde o início”.

Para além dessa exploração de uma “lógica” que não se afasta do olhar poético e que caminha junto com a provocação, outro ponto que me chama atenção na escrita de Igor é o retrato de uma juventude, que ao contrário do que muitos acreditam, está em processo de revisão de seus modos de viver e as formas de ser e estar no mundo.

O próprio título do livro faz uma brincadeira com essa questão. "Vinte e poucos” faz uma referência à faixa etária em que o autor se encontra, e também diz muito sobre uma geração que está desafiando uma ideia pré-concebida do que é ser jovem, do que é ser bem-sucedido, do que é a felicidade, do que é o amor e que em muitos casos, se distancia muito do que isso tudo representava para a geração dos nossos pais.

se o meu tempo
fosse o seu tempo
estávamos os dois
correndo
mas eu prefiro
ir lento
para não tropeçar.
Nos textos de Igor, vejo uma parcela grande de uma juventude que viu a geração passada seguindo algumas cartilhas, que com o tempo se mostraram uma falácia, uma estratagema do capitalismo e de um modo de viver que no fundo só quer fazer a manutenção da exploração. Uma juventude que olha para uma sociedade cansada e fala “isso deu errado”, mas que sabe também que para construirmos algo diferente “ainda é preciso chover no mar”.