Chupim do Itamar Vieira Junior em coautoria com a artista plástica Manuela Navas, é a estreia de Itamar, mundialmente conhecido pelo romance Torto Arado, na literatura para as infâncias. Chupim foi publicado pela Editora Todavia, através do selo infantil e infantojuvenil Baião, que possui uma curadoria genial. Itamar conseguiu transferir para a literatura infantil todo o lirismo e a crítica social já tão características de sua obra para adultos, ao descrever um dia na vida de um grupo de trabalhadores do campo pela perspectiva de uma criança. Itamar foi vencedor dos prêmios Leya, Oceanos e Jabuti.


Antes de o galo anunciar o início de um novo dia, o pai chama para o despertar: “Menino, menino”. Aquela era a primeira vez que Julim ia para os campos de arroz. Ali, enquanto os trabalhadores plantam, colhem e deixam os seus anos na terra, as crianças espantam os chupins. Mas, afinal, que mal pode fazer um passarinho?
Julim é um garoto que mora e trabalha no campo com sua família e o livro inicia com o despertar do garoto, nas primeiras horas da manhã, para iniciar as atividades do dia. De início já estabelecemos contato com o texto poético de Itamar, onde o nascer do dia vira “um convite para o despertar” e o chamado do pai “se misturava à bagunça do sono”, lutando contra a vontade de Julim de continuar dormindo na rede.

E o nascer do dia vai sendo descrito com beleza e delicadeza, fazendo um contraste com as atividades maçantes que os esperam na plantação de arroz:

Os sons viram ruído de bichos
e de natureza, rumor de vento
e cheiro de chuva.
Julim parte para o campo e ao ouvir os conselhos dos adultos, o garoto se questiona sobre uma das ordens, que é de afastar os chupins dos campos de arroz. Julim não consegue entender que mal um pássaro pode fazer e muito menos porque os adultos o chamam de praga, ainda mais um pássaro de coloração preta, que quando expostos ao sol, brilham em um tom azul-violeta. No burburinho de correr pelo campo, junto  a outras crianças, Julim se sente mais como os chupins do que como os adultos.


As crianças corriam feito espantalhos vivos. Algazarra de criança, algazarra de voo de chupim.

Itamar Vieira Junior é uma voz importante da literatura contemporânea brasileira. O autor apresenta para o grande público, algumas vivências de pessoas que sempre estiveram esquecidas ou estigmatizadas na literatura e em outras áreas. Quando falamos das literaturas para as infâncias a sua escrita se torna ainda mais importante, pois desafia o controle das narrativas desde cedo e coloca nossas crianças cientes de uma realidade que tem suas belezas, suas mazelas e que clama por uma geração mais consciente.