Mate Minha mãe do Jules Feiffer (Quadrinhos na Cia, 2015) é um quadrinho com altas doses de ironia, sarcasmo e uma aura soturna que emerge tanto do traço, quanto do texto. Foi a primeira Graphic novel de Jules Feiffer, que é uma figura importante da cena cultural estadunidense dentro da literatura, do cinema e do teatro. Já foi contemplado com um Pulitzer, um Oscar, um Obie e outras homenagens da National Cartoonist Society e do Writers Guild of America.
O quadrinho preza pela nostalgia e faz uma homenagem ao cinema noir. Mesmo aqueles, que talvez não estejam familiarizados com a produção artística de Feiffer, são transportados instantaneamente para uma vibe que é puro cinema. A construção das personagens, os diálogos, as cenas de ação e um bom uso dos clichês, ajudam a trazer a sensação de que estamos assistindo a um filme, assim como a temática clássica: detetive, mistério e investigação.
A ambientação da história, na década de 30, funciona também como uma possibilidade de imersão na história, onde acompanhamos um detetive decadente e sua relação com cinco mulheres com personalidade e motivações completamente diferentes para se manterem próximas a ele.
O quadrinho é dividido em dois atos e é dividido em capítulos. Acontece que seu ritmo é muito rápido, ditado pelos diálogos e por um traço que soa bastante despojado, meio “sujo” e sem regras. Seu desenho parece um rascunho estilizado e essa despretensão muito bem calculada, culmina em um traço extremamente charmoso e elegante.
“Mate minha mãe” é um quadrinho espetacular, onde texto e traço dançam juntinhos. A questão do movimento, inclusive, é algo levado muito a sério na produção do projeto.
Em vários frames, percebemos as nuances do movimentar dos personagens, seja quando adentram em um ambiente, onde o clap clap dos saltos altos (são quase audíveis) e o requebrar dos quadris literalmente se movimentam diante de nós, como também em uma das partes mais geniais, onde Jules Feiffer desenha os movimentos de um boxeador entrando em uma luta.
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