Tomie: volume 1 do Junji Ito (Pipoca e Nanquim, 2021) é um mangá japonês bastante cultuado que explora o terror e o suspense ao nos apresentar a uma personagem que não sabemos se é um espírito maligno ou alguma espécie de demônio. O que sabemos é que por onde Tomie passa, fica um rastro de violência e morte, principalmente se você for do sexo masculino. Tomie possui uma forma humana considerada irresistível aos homens. Eles se apaixonam loucamente, se tornam verdadeiros escravos e logo esse desejo se transforma em uma vontade de matar violentamente aquela que a pouco tempo era sua musa. Não importa quantas vezes Tomie é morta, pois ela sempre ressurge ainda mais bela e cruel.


As histórias são divididas em contos com início, meio e fim. Em cada uma delas, Junji Ito não poupa esforços na construção de uma narrativa que é violenta e cria uma aura densa ao redor do leitor. A tensão que fica no ar é quase palpável de tão bem construída e flerta com as histórias clássicas de terror japonesas e tantas outras que ganham força em diversas culturas através da oralidade.

Como uma espécie de mito, cada um dos contos obedece a uma mesma estrutura, exatamente como uma maldição se aplicando. Sendo assim, sabemos exatamente como cada conto irá terminar, mas o que prende o leitor é o contexto, a forma como os personagens relacionam com Tomie e como Junji Ito explora o processo de enfeitiçamento e loucura de cada história.


A violência aparece tanto na descrição dos fatos, como na ilustração de Junji Ito, que vai da representação singela para o escabroso, através de um horror gráfico que aparece num virar de páginas. Um grande feito de Junji Ito com a criação do universo de Tomie é que ele conseguiu alçar a história do mangá a um nível de lenda urbana.

O interessante da narrativa é que Tomie parece fazer pouco para o nível de violência que a história alcança. Tudo o que ela provoca parece surgir de uma sugestão de sua mera presença. É como se ela fosse uma força do caos que só faz aflorar o que há de mais selvagem na natureza daqueles que cruzam seu caminho.

Junji Ito começou a produzir o mangá Tomie numa época em que trabalhava como técnico de próteses dentárias. Ele aproveitava o tempo livre e os feriados para produzir e seu objetivo era concorrer ao Prêmio Umezz que contemplava novos talentos e foi um grande influenciador dos mangás de terror no Japão. Tomie também já foi inspiração para mais de uma dezena de filmes e mais recentemente serviu de base para uma série tailandesa da Netflix chamada Garota de Fora.