Madeleine, resistente: a rosa engatilhada (Editora Nemo, 2023) é um quadrinho francês ilustrado por Dominique Bertail e roteirizado por JD Morvan e Madeleine Riffaud. A HQ narra a história real de Madeleine, uma mulher que ainda muito jovem despertou para um sentimento de revolta e busca por justiça com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Como o quadrinho expandirá para mais dois volumes, em “a rosa engatilhada” conheceremos mais detalhes sobre sua infância e juventude, assim como as primeiras aproximações do movimento de resistência.


Com essa divisão em volumes que se tornará uma trilogia, os roteiristas tiveram tempo e liberdade para contextualizar tanto o tempo em que a história se situa, como os passos e motivações de Madeleine. A HQ consegue nos inserir lentamente em um clima de tensão próprios dos tempos de guerra, onde notícias aterradoras vão chegando como boatos para depois se materializarem em aviões despejando bombas.

A participação da própria Madeleine na construção do roteiro alçou a história a um outro lugar. A construção da personagem é bastante realista e os traços de Dominique Bertail captaram de forma criativa toda a ambientação de medo e guerra, assim como uma aura em tons azuis que se refere a um processo de narração e reconstrução da memória.

Todos aqueles soldados, talvez algum fosse boa pessoa, mas sinceramente não era o que parecia. Não costumo admitir, mas senti medo.



Madeleine Riffaud, que hoje tem 98 anos de idade, narra sua própria história de uma maneira incomum nessa trilogia. Se levarmos em consideração algo que poderíamos chamar de um “desencontro geracional”, nunca imaginaríamos uma senhora de 98 anos envolvida no projeto de Graphic Novel para falar de algo ao mesmo tempo tão intimista, doloroso e com um grande peso histórico. Pois ela topou e a narrativa é genial, também pelo fato de que Madeleine é uma reconhecida jornalista e poetisa.

Os parisienses tentavam agir como se nada estivesse acontecendo. Queriam viver a vida como antes. Podíamos fechar os olhos, claro, mas... o som das botinas no asfalto nos trazia de volta à realidade.

Enquanto a ocupação nazista expande suas garras pela França e vários outros países, em “a rosa engatilhada” vemos também um espírito de luta ocupar completamente a mente de Madeleine Riffaud antes mesmo da maioridade. O primeiro volume da trilogia nos prepara para adentrar em uma história onde o medo e a violência do fascismo não consegue esmorecer o coração de quem acredita na paz e na liberdade dos indivíduos.