Atlas: a história de Pa Salt da Lucinda Riley e Harry Whittaker (Editora Arqueiro, 2023) é o aguardado desfecho da série “As Sete Irmãs”. Depois de conhecermos as histórias de Maia, Ally, Estrela, Ceci, Tiggy, Electra e da irmã desaparecida, chegou a vez de mergulharmos na vida de Pa Salt. Todos os mistérios que embalaram os sete volumes anteriores são respondidos um a um, e garantem uma boa diversão para quem acompanhou ansiosamente a saga da família D’apliese e criou suas próprias teorias para tentar decifrar os segredos do excêntrico Pa Salt.


O livro é um alento e também uma despedida para a legião de fãs de Lucinda, que não tinham certeza se a série teria um final. A autora faleceu em 2021, vítima de um câncer, logo após o lançamento do sétimo livro da série e com a promessa de um oitavo e último livro. Harry Whittaker, filho mais velho de Lucinda que também é escritor, ficou com a missão de recolher todos os escritos da mãe para finalizar a série. No prefácio de “Atlas”, Harry nos conta como se deu o processo de finalização da saga e conta que esse foi um dos últimos pedidos de Lucinda.

Por que Pa Salt adotou sete irmãs? Por que cada uma delas vem de um país diferente? De onde veio toda a sua fortuna? Qual seu país de origem? Qual a sua verdadeira relação com Zed e Greeg Eszu? Quais as circunstâncias da construção de Atlantis, a mansão da família? Qual a relação da mitologia com a história de Pa Salt e sua família? O leitor pode embarcar com sede no último volume, pois essas e outras questões que nem sabíamos importantes para a narrativa voltam à luz em “Atlas”.

Em cada livro da série conhecemos um pouco sobre a cultura e os costumes dos países de origem das irmãs. Agora em “Atlas” revisitamos todos esses lugares por estarem fortemente ligados à história de Pa Salt. O porque da adoção de cada uma das filhas e as circunstâncias que levaram a isso são explicadas nos mínimos detalhes, partindo das mesmas estratégias utilizadas nos demais volumes: a exploração das simbologias da mitologia grega e a utilização de personagens e acontecimentos históricos reais em meio a uma ficção eletrizante.

Diferentes culturas acreditam em coisas diferentes. Mas, por milênios, elas foram imortalizadas no famoso aglomerado estelar e são objetos de fascínio e admiração. Mitos sobre as irmãs foram passados oralmente, através de poesia, arte, música, arquitetura... elas estão incorporadas a todas as facetas do nosso mundo.
Durante a leitura, vamos sendo direcionados para alguns acontecimentos dos demais volumes e ficamos surpresos como muitos dos mistérios da série foram sendo respondidos conforme conhecíamos cada uma das irmãs. Algumas passagens exploraram isso de forma sutil, através de algum personagem ou de uma fala reveladora. Quando chegamos ao final de “Atlas” a vontade é de recomeçar a leitura de toda a saga, só para conseguir catalogar cada uma das pistas que foram deixadas e passaram despercebidas.

Algo muito bem executado no livro e que merece menção é uma aproximação quase que idêntica ao modo de escrever da Lucinda. Harry Whittaker conseguiu se manter fiel ao modo de narrar da Lucinda e conseguiu trazer cada uma das irmãs, com sua identidade própria e modos de ver o mundo que foram tão importantes na construção da saga.

 “Atlas: a história de Pa Salt” nos leva a uma viagem pelo globo e também a uma viagem pelo tempo. No ano de 2008, após terem acesso a um diário escrito pelo pai, as sete irmãs fazem uma cópia para cada e iniciam uma leitura coletiva enquanto navegam pelo mar Egeu a caminho de uma cerimônia simbólica de sepultamento do pai. A leitura do diário as levam para o ano de 1928, para contar a infância de Pa Salt e daí para diversos outros anos da vida do pai em uma verdadeira saga do herói com direito a reviravoltas inimagináveis.

Na verdade, eu já estava bem acostumado com aquele tipo de vida – sempre em movimento, sem necessidade de pensar muito sobre meu destino. Talvez esse fosse o meu futuro.
Toda a vida de Pa Salt é desenhada pela simbologia do personagem mitológico Atlas, um homem que carrega o peso do mundo nos ombros. E partindo da ideia de que todo o peso do mundo só é dado a quem consegue carrega-lo, ele irá experimentar uma gama de desafios que ao mesmo tempo que sempre o colocaram em uma posição de perigo, também foram fundamentais para o homem que se transformou. Pa Salt era um homem com uma grande missão no mundo e ele a cumpre com louvor.