A menina que entrou na história com texto de Alex Andrade e ilustrações de Beto Caldeira (Editora Quase Oito, 2022) é uma obra infantojuvenil que conta a história de Clara, uma menina apaixonada pelos livros. A narrativa vai além de apresentar uma personagem que simplesmente gosta muito de livros e leitura. Alex desenha para nós toda uma rede de apoio que foi essencial para a garantia de seu direito de ler e que fizeram nascer em Clara uma sede de formar novos leitores.


A menina cresceu, e antes mesmo de saber ler já se debruçava na estante tentando alcançar os livros lá do alto. Era ela quem escolhia as histórias para a mãe ler antes de dormir.

Na personalidade de Clara estão todas aquelas características que formam um bom leitor, sendo a mais forte de todas, a curiosidade. Munida dessa curiosidade a menina Clara, de apenas oito anos, convida seus dois melhores amigos, Valentina e Rafa, para fazer uma pesquisa que pode virar um grande projeto: o mapeamento de bibliotecas públicas da cidade onde moram. Eles acabam descobrindo que existe uma biblioteca desativada na região e isso faz nascer questionamentos interessantes sobre promoção do acesso, interesse público e políticas para a existência de espaços de leitura.

“A menina que entrou na história” é um livro que aposta em temas bastante atuais e por isso causa uma rápida identificação nas crianças. A história procura fazer contrapontos entre o novo e o velho, conversando com uma geração que vive imersa no vídeo game e aprendendo as dancinhas virais do TikTok. Ao mesmo tempo, consegue mostrar as possibilidades de intersecção entre as “coisas antigas” e as “coisas atuais”, pois no fundo essas coisas são todas histórias.

O livro flerta com o imaginário do leitor através da fantasia. Clara, Valentina e Rafa embarcam em uma verdadeira aventura onde vão, literalmente, viajar para dentro dos livros e, portanto, para dentro das histórias. A obra embarca em uma jornada metaliterária que coloca os leitores de frente para grandes acontecimentos da humanidade, como também de clássicos reais e irreais da literatura mundial.

Quando fingia que iria dormir e esperava a porta do quarto dos pais se fechar para acender o abajur e pegar um livro. Da vez em que estava de castigo, proibida de qualquer coisa (inclusive ler!), e escondeu um livro atrás do vaso sanitário; toda hora Clara queria fazer o número dois e ouvia a mãe suspeitando: ‘Essa menina está com o intestino solto’. Daquele fim de semana em que foi viajar e, na hora de fazer a mala, não havia espaço para as roupas, por conta dos vários livros que queria levar junto. Dos passeios que evitou para aproveitar um tempinho e ler um, dois, três, quatro, cinco, seis capítulos sem parar. Dos sequestros de livros da biblioteca do pai. De quando os amigos chegavam na escola com alguma novidade e debochavam que a sua novidade era sempre a mesma: livros! Dos inúmeros livros abertos sobre a cama, quando lia o capítulo de um e pulava para o capítulo de outro. E da sua cama macia, onde os sonhos eram cheios de imagens das histórias que lia e ouvia.
“A menina que entrou na história” é uma boa opção para leitura conjunta e para atividades de mediação de leitura. Seu passeio pelos clássicos da história, da literatura e da mitologia são um prato cheio para um bate papo literário que só aproxima as crianças da importância da leitura escrita e das bibliotecas.