A promessa de Nicola Davis e Laura Carlin (Editora Rovelle, 2015) é um belo livro ilustrado que carrega, de forma simbólica e por vezes bastante gráfica, alguns temas que podem suscitar reflexões sobre a modernidade, as cidades e os caminhos que estamos trilhando enquanto sociedade. A obra recebeu menção honrosa na categoria de ficção do Prêmio da Feira de Bolonha na Itália, e foi eleita uma das dez melhores de 2014 pelo jornal The New York Times. Sua história carrega um misto de contos de fadas sobre uma promessa com potencial de mudar o mundo.


Em uma rua deserta de uma cidade dura e cruel, uma ladra tenta roubar a bolsa de uma velha senhora. Mas ela não pode ficar com a bolsa sem dar algo em troca: a promessa.

Abrimos a página e nos deparamos com o cenário de uma grande cidade. Um conjunto de prédios onde reina o bege e o cinza, onde as cores servem como um dos principais instrumentos para preparar o leitor para o tom que a narrativa irá adotar adiante. Se a ambientação é dura e fria (assim como a maioria das cidades), o texto também não fica atrás e essa característica é o que o livro tem de melhor. Grandes cidades costumam ser violentas e existe uma violência que vem de uma hostilidade causada pela forma que moldamos os nossos dias. A rotina é cachorro bravo e passa por cima de quem quer que seja. 

Quando se trata de livro ilustrado para as infâncias, é comum encontrarmos alguns discursos que colocam as crianças em um lugar sacro, que não deve de forma alguma experimentar nenhum tipo de contato com nada que fala sobre traumas, medos e dores. Acontece que a literatura infantil pode ser uma ótima alternativa para aumentar o campo simbólico das crianças sobre o mundo e as diversas formas de vivenciá-lo.

O livro “A promessa” fala sobre uma cidade que é exatamente o tipo de cidade que aguarda nossas crianças.

Quando eu era pequena morava em uma cidade cruel, dura e feia. Suas ruas eram secas como o deserto, castigadas pelo calor e pelo frio, e raramente recebiam a bênção das chuvas. Um vento arenoso e pálido soprava o tempo todo, arranhando o redor dos prédios como um cachorro faminto.
A protagonista da história é uma menina que rouba pessoas no sinal e como ela é também a narradora, acessamos a sua visão de mundo e sua percepção sobre a cidade e sobre si mesma. A menina demonstra ter um olhar realista sobre as circunstâncias que a rodeia e isso fica nítido na passagem em que diz: “as pessoas se tornaram tão mesquinhas, duras e feias quanto a cidade. Eu também era assim, cruel e egoísta”.

As coisas começam a mudar quando a pequena ladra rouba a bolsa de uma senhora em um beco. Inicialmente a mulher tenta lutar, mas em seguida ela aproveita o acontecimento para passar uma missão a frente. Para levar a bolsa a menina teve que fazer uma promessa que mudará a sua vida e de muitos a sua volta.