Apocalipse Z: o princípio do fim do Manel Loureiro (Editora Planeta do Brasil, 2010) é o primeiro volume de uma trilogia sobre apocalipse zumbi. Todo o livro é estruturado em forma de diário, onde o personagem principal vai narrando a eminência do “fim do mundo” conforme uma pandemia desconhecida se espalha em escala global. O mais interessante é que essa escolha narrativa, acaba por nos colocar em pé de igualdade com as vivências do herói da história, pois tudo que ele sabe é exatamente o que nós, leitores, também sabemos.


A história pensada pelo Manel Loureiro se tornou um fenômeno de forma nada banal. Inicialmente, o autor publicava apenas em um blog, como uma espécie de diário com anotações sobre os acontecimentos do dia a dia. A cada post Manel ia introduzindo essa temática de algo misterioso acontecendo no mundo e com isso prendeu a atenção de milhões de pessoas que até ficavam na dúvida se aquilo se tratava de ficção ou realidade. Com o sucesso do blog, logo a história se tornou livro de igual sucesso.

Sou fã de filmes e séries de zumbis, mas nunca havia lido nenhum livro dessa temática. “Apocalipse Z” é praticamente um roteiro pronto de cinema e chega munido de uma força que somente as palavras possuem, pois consegue nos colocar no meio de todo o perigo da trama e transmitir sensações de medo, dor e desesperança que um apocalipse pede. Não vislumbramos apenas cenários desoladores onde mortos caminham, mas assistimos também o desafio de um homem ao tentar resguardar sua humanidade enquanto o mundo desaba.

Manel Loureiro explora muito bem nesse primeiro volume a forma como uma pandemia de razões inexplicáveis nasce. Primeiras ocorrências de algo fora do comum começam a rodar o mundo com ares de teoria da conspiração e os governos, é claro, inicialmente negam qualquer infortúnio grave, tanto pelo medo de mostrar fragilidade, quanto por razões políticas e econômicas. Tudo isso envolto em muita desinformação e censura. Assim, os civis acabam ficando no escuro e quando o problema se torna visível e incontornável o perigo já está batendo à porta.

O protagonista da história, um jovem advogado viúvo que não sabemos o nome e que vive apenas com seu gato persa chamado Lúculo, começa a acompanhar de casa as notícias estranhas sobre uma ameaça que está fechando as fronteiras dos países. Enquanto isso, ele vai fazendo suas anotações diariamente. Manel Loureiro vai subindo a escala de violência da história aos poucos e essa tensão e ansiedade que vai sendo construída gradativamente, nos faz ficar preso nas páginas do livro, ansiosos pelo momento em que o personagem verá pela primeira vez a personificação desse mal sedento de sangue frente a frente.

Apesar de citar diversos países e cidades do mundo, “Apocalipse Z: o princípio do fim” se passa na Espanha, partindo de Pontevedra, capital da província homônima na Galiza, no noroeste de Espanha. Quando os “não mortos” chegam em hordas em Pontevedra, nosso personagem se fecha em sua casa juntamente com seu gato, mas logo percebe que não poderá ficar ali por muito tempo, onde poderia com o tempo morrer de fome e sede e até mesmo enlouquecer sem a companhia de um ser vivo.

O cheiro de putrefação, lixo, fezes e carne queimada era nauseabundo. Além disso, eu podia perceber outro cheiro mais suave, sutilmente misturado no meio de tudo isso, mas ali presente. Não o poderia descrever, mas é esse cheiro que ando sentindo há semanas. Acho que é o cheiro deles. Dessas coisas. Poderia jurar que têm um aroma próprio. Ou talvez eu esteja enlouquecendo, sei lá.
As novas circunstâncias acabam colocando um simples advogado, carregando um gato, diante de perigos inimagináveis em uma cidade onde antes caminhava para fazer tarefas banais. Com o tempo o homem descobre ter uma força que nunca se imaginava capaz, provinda de uma necessidade de sobreviver a qualquer custo.

Agora, só se podia pensar em ser suficientemente hábil para sobreviver até o dia seguinte.

Enquanto caminha por um mundo devastado que mais parece um cemitério a céu aberto, o homem vai descobrindo a importância das relações humanas para sua própria sobrevivência. Um grupo inusitado acaba se formando e o apoio mútuo será mais essencial que água para amanhecer no dia seguinte com vida.