Eu Fico em silêncio é um livro escrito e ilustrado pelo americano David Ouimet e foi lançado no Brasil pela Companhia das Letrinhas em 2021. David também é músico, portanto, é possível perceber alguns elementos em suas obras onde literatura, ilustração e música se entrelaçam. “Eu fico em silêncio” trata de temas mais densos ao nos apresentar a uma personagem tímida que usa do silêncio como parte de sua fuga. Conforme texto e ilustrações vão nos apresentando a essa menina aparentemente triste e introvertida, vai discutindo sobre temas como o próprio silêncio que nomeia a obra, sobre timidez, diferenças, identidade, individualidade, não adequação, não pertencimento, preconceito e descobertas.



Apesar de se apresentar em um formato que normalmente associamos aos livros para crianças, “Eu fico em silêncio” é uma daquelas obras que podem ser indicadas para todas as idades. Suas reflexões são capazes de alcançar diferentes tipos de pessoas e nos conectar com diversos assuntos que fazem parte da nossa formação enquanto indivíduo, além de ser uma metáfora inteligente sobre a sociedade e as relações. O livro ilustrado se torna um suporte interessante para essas explorações.

O autor faz um contraponto entre silêncio e barulho através do texto e das ilustrações que é bastante criativo. O próprio David Outmet diz trabalhar neste livro com uma espécie de “tensão entre silêncio e som”, o que ganha proporções ainda maiores com suas imagens que são mais sombrias e obscuras.


Às vezes, eu fico em silêncio. Quando eu falo, ninguém me entende. Então eu fico em silêncio
O silêncio aparece como resposta a todas as inadequações. A personagem caminha por cenários ricamente ilustrados e cheios de mensagens onde os barulhos representam os incômodos e os livros aparecem como a sustentação para lidar com a realidade.

Às vezes, quando fico em silêncio, eu leio. Quando leio, sei que existem línguas que ainda vou falar. Quando leio, sei que existe um mundo inteiro debaixo dos meus ramos.

Ao mesmo tempo que o livro vai explorando como a timidez parece nos isolar em um mundo onde não há espaço para intervenções e interações, também vai mostrando que a roda da vida não permite estagnação e que independente de qualquer coisa essa roda gira e nos leva a algum lugar. É pelo campo da leitura, dos livros e da imaginação que a personagem vai se reconhecendo como parte de algo. É onde seu mundo se expande.


É bonita a forma como o autor credita todas as transformações vividas pela personagem ao seu encontro com a arte. Cada um possui uma maneira única de falar e de se fazer ser ouvido e algumas delas podem não ter nada a ver com quem fala mais alto. “Eu fico em silêncio” é um livro sobre a conquista da própria confiança.