A irmã do sol: a história de Electra da Lucinda Riley (Editora Arqueiro, 2000) é o sexto volume da série “As sete irmãs”. A autora nos apresenta a Electra D’Aplièse, que de todas as irmãs, talvez seja a mais complexa. Electra guarda algumas dores que inicialmente não sabemos muito bem de onde vieram e que aos poucos vamos descobrindo, junto a ela, que são consequências do racismo. Como foi criada na mansão Atlantis, em uma espécie de bolha criada pelo seu pai adotivo, até começar a sair de lá, Electra não tinha ideia de como as aparências moldam as nossas formas de ser e estar no mundo. Ela vivia num microcosmo onde a diferença era algo muito natural, uma vez que cada uma de suas irmãs adotivas vieram de uma parte diferente do mundo.



Todas as dores que Electra guardou para si, foram transformadas em uma personalidade mais explosiva. Portanto, a relação com suas irmãs e seu pai nem sempre era harmoniosa. Após ser descoberta por um olheiro enquanto caminhava em um shopping, Electra inicia uma prodigiosa carreira de modelo e a fama a levou para diversos lugares que nem sonhava em estar, mas também para o submundo das drogas. Electra inicia a trama completamente dependente do álcool e da cocaína e será justamente a reconexão com sua história e a descoberta de quem foi sua família de origem que a trará de volta para um caminho de cura.

Na narrativa de “A irmã do sol” viajamos pelo lado badalado de Nova York e acompanhamos a rotina de desfiles, fotos e campanhas publicitárias de Electra. O trabalho é uma das válvulas de escape da supermodelo que é conhecida e respeitada pelo seu profissionalismo. Acontece que Electra questiona o tempo todo a função do seu trabalho e a sua própria identidade, como se a carreira de modelo tivesse sido apenas um golpe de sorte. Ela se compara o tempo todo com suas irmãs e as carreiras que seguiram em uma necessidade obsessiva de também ser um orgulho para seu pai. Sem saber lidar com uma espécie de vazio existencial e com um estado pungente de depressão, Electra acaba afastando a todos que poderiam se tornar sua rede de apoio.

Após a morte do pai adotivo das sete irmãs cada uma delas embarcou em uma jornada para conhecer a própria história seguindo algumas pistas e uma carta deixada para cada uma delas. Electra até então não tinha ao menos lido a carta. Parte de seu luto foi transformado em uma falsa sensação de raiva que nada mais era do que a dificuldade de enfrentar a morte de alguém que tanto amava. Após perceber o quanto a vida de suas irmãs se transformou com a descoberta de suas verdadeiras origens e após um incidente onde seu vício a coloca em posição de risco é que Electra reconhece que precisa de ajuda.

Nesse meio tempo ela recebe uma carta de Stella Jackson, uma grande ativista dos direitos civis que se apresenta como sua avó. Enquanto Electra se dedica a um tratamento de desintoxicação, Stella começa a lhe contar a história de sua família que levará Electra para as planícies do Quênia, na África.

Mesclando ficção com acontecimentos reais, a história de “A irmã do Sol” é também uma homenagem a várias personalidades que lutaram pelos direitos civis nos Estados Unidos. A história da família de Electra se mescla com a militância contra a segregação racial na América e em entrevistas, a autora reafirma seu desejo em tratar de tema tão importante:

Além de homenagear o legado de Rosa Parks em A irmã do sol, eu quis também lançar uma luz sobre figuras menos conhecidas, mas igualmente inspiradoras, como Beatrix Hamburg, que foi a primeira mulher afro-americana a frequentar a Vassar College e a Faculdade de Medicina de Yale. Ela aparece como personagem em A irmã do sol.

 Como nos demais volumes, Lucinda coloca no papel seu intenso processo de pesquisa sobre a cultura e os costumes dos Estados Unidos e do Quênia, em uma história recheada de reviravoltas que mostram a importância de se conhecer o passado para se desenhar o futuro e modificar uma geração.