A cidade suspensa de Samuel Medina (Senhor da Lenda, 2015) é um livro de fantasia que nos leva a um universo fascinante: uma cidade suspensa. Acompanhamos os passos de Kain, um viajante que adentra a cidade e que precisa cumprir alguns desafios para conquistar o direito de se estabelecer entre suas edificações imponentes. Não sabemos muito bem em que mundo a história se passa e qual a situação daqueles que vivem fora dessa cidade, mas alguns detalhes nos levam a crer que entrar nesse local pode custar muito mais caro do que imaginamos e temos a certeza que se trata de um mundo habitado por criaturas inimagináveis. É uma história com pitadas de suspense, terror, magia e aventura que consegue contar muito em uma narrativa curta, uma novela. 


Conforme avançamos na leitura do livro, vamos conhecendo um pouco mais sobre o viajante Kain e seus objetivos. Kain não quer apenas "subir a bordo" da Cidade Suspensa, esse personagem enigmático possui outra intenções. 

Kain suspirou, enquanto lembrava que tinha pouco tempo. Logo a Cidade se suspenderia e começaria mais uma jornada. Era necessário encontrar um lugar para ficar antes que ela fizesse um novo pouso. 

É uma história que possui muitos atrativos e sem dúvida o maior deles é a exploração dessa ideia de uma cidade que se desloca, que suspende no ar, que voa para novas localidades. Essa é uma temática que possui uma carga imagética muito forte, que conversa de perto com nossa vontade e necessidade de fabular, de imaginar, de experienciar o mundo por outra ordem. É uma ótima opção principalmente para aqueles que gostam de literatura fantástica. 


A história de Samuel Medina logo me fez lembrar de um vídeo do canal Entre Planos chamado "Leve-me para uma ilha no céu". Nele Max Valarezo fala sobre seu fascínio pelas histórias que trabalham com a existência de um pedaço de terra flutuante. Max fala com entusiasmo sobre como isso o encanta desde a infância e como a cultura pop explorou essa fantasia das mais diversas formas. Acredito que Samuel Medina, que é um grande contador de histórias e mediador de leitura, partiu de uma emoção muito parecida para escrever "A cidade suspensa". É precisa ter uma mente que se permite encantar para entender a força narrativa dessas ilhas flutuantes. No vídeo, Max cita exemplos como "A cidade das nuvens" que aparece no filme "Star Wars: O império contra-ataca" (1980), as pinturas do artista inglês Roger Dean que ilustram pequenas ilhas no céu e o filme "O castelo no céu" (1986) de Hayao Miyazaki.

Star Wars - Cidade das Nuvens

Roger Dean (artista inglês)

O castelo no céu - Hayao Miyazaki.

Além de Samuel Medina explorar essa cidade ele também capricha nos mistérios que rondam o lugar. Desde o maquinário, a tecnologia que suspende a cidade até os habitantes que circulam pelo local. Em uma certa parte do livro, enquanto nosso herói conhece a cidade e como as coisas funcionam, ele é alertado para o fato de que precisa encontrar abrigo antes do anoitecer, pois a noite na cidade submersa é extremamente perigosa. Essa parte é narrada de uma forma que faz os nossos pelos arrepiarem e a criarmos mil teorias sobre que tipo de criaturas, perigos e energias são essas que rondam a noite da cidade. 

Agora não adianta nada, mas alguma coisa tem que ser feita. O dia acabou e logo a parte mais escura da noite há de chegar. Até lá, deves buscar algum abrigo. A noite aqui é muito, muito fria e o escuro devora gente. Nenhuma porta ou janela oferece abrigo e Aqueles que Vagam ocupam as ruas desertas. 
Um outro ponto de encantamento da obra está na descrição que é feita da Biblioteca da Cidade Suspensa e do Bibliotecário. A Biblioteca é apresentada de forma que nos leva a crer que é considerada a instituição mais importante da cidade, assim como a figura do bibliotecário. Ocupam uma posição de poder e de guarda de um mundo de conhecimentos a ser explorado. O capítulo que Kain chega até o prédio da Biblioteca é fascinante. 

O prédio era gigantesco, destacando-se das demais construções. Era uma estrutura cilíndrica que subia vertiginosamente, dando a impressão de uma altura infindável. Acima do portão, como se dominasse toda a fachada, Kain reconheceu a insígnia que estava gravada na medalha que recebera de Scarlate. Então aquele rapaz, Salomão, falava com razão. Aquele símbolo representava a Biblioteca. 

Kain e seu guia seguiram por mais diversas salas e corredores, de modo que o viajante já não sabia se orientar naquele ambiente. Chegaram por fim a um outro portão, guardado por outro guia. Acima, havia uma plaqueta de madeira onde estava escrito "Bibliotecário" logo abaixo da insígnia da Biblioteca. Kain em segundos estaria diante do homem que dominava toda aquela estrutura. Sua jornada se aproximava de um momento crucial. 

 "A cidade suspensa" nos conecta a um dos maiores desejos do ser humano, que é voar. Já inventamos todo tipo de estratagemas para tentar dominar os céus, para sair da atmosfera e para aqueles sonhos que ainda são impossíveis realizar, como o de uma cidade flutuante, temos a literatura para saciar nossa sede, nossa curiosidade, nosso prazer de escrever, contar e ler histórias. É uma delícia entrar nesse mundo misterioso e mítico da literatura fantástica e tentar descobrir onde será o próximo pouso da Cidade Suspensa. 



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