Ideias para adiar o fim do mundo de Ailton Krenak (Companhia das Letras, 2019) é um livro que trás a transcrição de uma palestra proferida pelo autor no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa em março de 2019. Ailton Krenak fala com muita responsabilidade e intenso desejo de diálogo sobre como nós construímos a ideia de humanidade através dos anos. É um ensaio que dá uma aula sobre ecologia dos saberes, pensamento abissal, relação com a natureza e que faz reflexões importantes sobre o legado que herdamos e o que deixaremos para as próximas gerações.


Krenak fala para ser ouvido, portanto consegue ser bastante didático e utilizar palavras e exemplos que conversam com a maioria das pessoas. Em suas considerações defende que o fim do mundo já aconteceu diversas vezes e em muitos lugares, fato que é fácil de visualizar se pensarmos em nosso processo de colonização, onde etnias, tribos, línguas, culturas, foram completamente destruídas em nome de uma modernidade, de uma "evolução", de uma civilização e civilidade que colocou o mundo em declínio. Nosso modelo de sociedade está causando uma saturação do planeta que já não está dando conta de nossas demandas arbitrárias.

Ao dizer que "adiar o fim do mundo é poder contar mais uma história", Krenak chama atenção para a escuta e valorização da diversidade, de outros modos de viver em sociedade, e principalmente com uma natureza que agimos como se não fizessemos parte dela.



A ideia de nós, humanos, nos descolarmos da terra, vivendo numa abstração civilizatória, é absurda. Ela suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos. Oferece o mesmo cardápio, o mesmo figurino e, se possível, a mesma língua para todo mundo.

Uma outra ideia para adiar o fim do mundo é pensando profundamente sobre esse discurso do "somos todos iguais". Krenak nos fiz que "definitivamente não somos iguais, e é maravilhoso saber que cada um de nós que está aqui é diferente do outro, como constelações." Essa afirmação defende a riqueza que vive na diversidade e que a estratégia inteligente deveria ser aquela que escolhe aprender com o mundo que cada um carrega em suas particularidades, e não persistir nesse caminho de segregação, ataque, demonizacão do que não conhecemos. Atrás do discurso do "somos todos iguais" pode se esconder uma impossibilidade de entender e respeitar as diferenças.

"Não tem fim do mundo mais eminente do que quando você tem um mundo do lado de lá do muro e um do lado de cá..." sem existência de diálogo e com eterna sensação e receio de conspirações sobre aqueles que estão inacessíveis do outro lado. Desse modo o outro sempre representará perigo, ameaça.

O declínio do nosso planeta está aí, evidente para quem não quer evitar os fatos e as consequências. Ailton Krenak nos convida a pensar e agir enquanto ainda é tempo. Precisamos nos reconectar como parte da natureza e não só fazer uso indiscriminado da mesma. Caso continuemos seguindo calcados nos mesmos erros, e o pior, erros já diagnosticados, Krenak nos alerta para uma realidade para o planeta que já é possível ser visualizada em alguns lugares, quando diz que "nós, a humanidade, vamos viver em ambientes artificias produzidos pelas mesmas corporações que devoram florestas, montanhas e rios. Ainda podemos evitar que aconteça mais um fim do mundo.