Meia Curta da Andreza Félix (Mazza Edições, 2020) é um livro muito divertido. A Andreza soube brincar com a casualidade, com o comezinho do dia a dia para criar uma história que pode suscitar diversos elementos importantes para explorarmos com as crianças nas bibliotecas escolares, nas rodas de leitura, nas mediações de leitura e no presentear com livros. Andreza é bibliotecária e pedagoga, então encontramos elementos interessantes na sua forma de conceber uma história para um público que ela conhece bem: as crianças. Nossa personagem é uma garota do tipo que hoje chamamos de fashionista e a história inicia nos dizendo que "esta é a história de como as meias curtas de que eu não gosto nada salvaram minha vida."
Para a concepção desse livro como um objeto, podemos dizer que o texto de Andreza Félix e as ilustrações e projeto gráfico criados por Santiago Régis fizeram um feat perfeito. No texto a autora vai aos poucos nos apresentando à personagem e seus gostos, seus códigos de vestimentas e de cara a personalidade forte já é algo que fica evidente:
A partir daí o ilustrador Santiago criou todo um universo de possibilidades de representação, através da ilustração de gavetas abertas, armários, malas de viagens, máquina de lavar, varal, cesto de roupas, que funcionam como um caça meias e os leitores embarcam na busca por uma meia curta junto com a menina bem ao estilo da quase lenda urbana do segundo par de meia que some na gaveta, some no varal, some na máquina de lavar. Além de utilizar desses elementos da casa, o ilustrador também usou e abusou das cores e das representações de objetos que fazem parte ou são do campo de desejo das crianças e pré-adolescentes.
Uma das coisas que acho mais fantásticas na literatura para a infância, são as possibilidades de interação artística entre texto, ilustração e projeto gráfico e nisso os artistas envolvidos nesse projeto não pecaram. Foram feitas escolhas muito interessantes para substanciar ainda mais a representação desse livro. Por mais que o texto não diga, a personagem principal foi retratada como uma menina negra. O texto apresenta informações de que a personagem gosta muito de pensar nas composições de roupas que vai vestir, e até seu posicionamento sobre o "não gostar" de meias curtas nos faz chegar a desenhar características dessa garota muito vaidosa.
Diante dessas informações a ilustração nos apresenta a uma garota que usa diversos estilos de roupas. É uma diversão ir passando as páginas, enquanto a história acontece, e também apreciar as mudanças de roupas e sapatos que são apresentadas. Essa estratégia nos dá sensação de temporalidade, de procura, de passar dos dias e funciona muito bem para construção da personalidade da protagonista. Gosto muito de uma passagem do meio do livro que diz "meia curta some dez vezes mais que meia comprida" seguida de uma ilustração que representa um varal cheio de roupas com estampas de encher os olhos. As roupas estão secando ao vento, aqui e ali, aparecem um par de meias diferentes e a direção em que o vento leva as roupas parece nos dizer que ainda há mais para ver nas páginas seguintes.
Da mesma forma que a diversidade de formas de se vestir é retratada, o mesmo acontece com os cabelos crespos da menina. A cada ilustração ela está com uma maneira diferente de arrumar o cabelo, o que é muito legal quando pensamos no racismo que ainda impera em nossa sociedade e que consequentemente não está fora do ambiente escolar. Meninas e meninos de cabelos crespos ainda são alvos de bullying racista e esse é um desafios que as escolas precisam encarar de frente. Quando uma personagem de uma história infantil aparece com fitas no cabelo, birotes, boina, touca, capuz, laços, penteado de lado, penteado do outro, solto em estilo black power, com presilha, estilizado com lenço, de tranças, contribui para mostrar diversidade e a valorização da beleza negra.
Uma outra curiosidade da história é que a menina é uma bailarina e o ilustrador se atentou a esse fato para representar em cada página a personagem fazendo um passo de balé. Isso já começa na capa do livro e se estende até o final. O representar do caminhar é feito com um passo de balé, o pular de uma poça dágua foi usado como deixa para mais uma representação de um passo de dança, a espera na fila do pão inspirou a representação de um plié.
Meia Curta é uma história que parte do simples e trás com bastante força, leveza e diversão uma história sobre autoestima, personalidade e humor. Assim como muitas histórias publicadas pela Mazza Edições consegue levar discussões sobre representatividade para nossas crianças primando pela qualidade, que é algo fundamental para qualquer gênero literário. Lembrando que é uma história sobre como a meia curta salvou a vida de uma menina e você terá que ler o livro para descobrir.
Encontre seu livro no site da editora: http://www.mazzaedicoes.com.br/
Para a concepção desse livro como um objeto, podemos dizer que o texto de Andreza Félix e as ilustrações e projeto gráfico criados por Santiago Régis fizeram um feat perfeito. No texto a autora vai aos poucos nos apresentando à personagem e seus gostos, seus códigos de vestimentas e de cara a personalidade forte já é algo que fica evidente:
Nas minhas gavetas de roupas nunca tive meias curtas. Gosto de luvas, cachecol e outras coisas que deixam a gente quentinha. Mas eu nunca gostei de meias curtas.
A partir daí o ilustrador Santiago criou todo um universo de possibilidades de representação, através da ilustração de gavetas abertas, armários, malas de viagens, máquina de lavar, varal, cesto de roupas, que funcionam como um caça meias e os leitores embarcam na busca por uma meia curta junto com a menina bem ao estilo da quase lenda urbana do segundo par de meia que some na gaveta, some no varal, some na máquina de lavar. Além de utilizar desses elementos da casa, o ilustrador também usou e abusou das cores e das representações de objetos que fazem parte ou são do campo de desejo das crianças e pré-adolescentes.
Uma das coisas que acho mais fantásticas na literatura para a infância, são as possibilidades de interação artística entre texto, ilustração e projeto gráfico e nisso os artistas envolvidos nesse projeto não pecaram. Foram feitas escolhas muito interessantes para substanciar ainda mais a representação desse livro. Por mais que o texto não diga, a personagem principal foi retratada como uma menina negra. O texto apresenta informações de que a personagem gosta muito de pensar nas composições de roupas que vai vestir, e até seu posicionamento sobre o "não gostar" de meias curtas nos faz chegar a desenhar características dessa garota muito vaidosa.
Diante dessas informações a ilustração nos apresenta a uma garota que usa diversos estilos de roupas. É uma diversão ir passando as páginas, enquanto a história acontece, e também apreciar as mudanças de roupas e sapatos que são apresentadas. Essa estratégia nos dá sensação de temporalidade, de procura, de passar dos dias e funciona muito bem para construção da personalidade da protagonista. Gosto muito de uma passagem do meio do livro que diz "meia curta some dez vezes mais que meia comprida" seguida de uma ilustração que representa um varal cheio de roupas com estampas de encher os olhos. As roupas estão secando ao vento, aqui e ali, aparecem um par de meias diferentes e a direção em que o vento leva as roupas parece nos dizer que ainda há mais para ver nas páginas seguintes.
Da mesma forma que a diversidade de formas de se vestir é retratada, o mesmo acontece com os cabelos crespos da menina. A cada ilustração ela está com uma maneira diferente de arrumar o cabelo, o que é muito legal quando pensamos no racismo que ainda impera em nossa sociedade e que consequentemente não está fora do ambiente escolar. Meninas e meninos de cabelos crespos ainda são alvos de bullying racista e esse é um desafios que as escolas precisam encarar de frente. Quando uma personagem de uma história infantil aparece com fitas no cabelo, birotes, boina, touca, capuz, laços, penteado de lado, penteado do outro, solto em estilo black power, com presilha, estilizado com lenço, de tranças, contribui para mostrar diversidade e a valorização da beleza negra.
Uma outra curiosidade da história é que a menina é uma bailarina e o ilustrador se atentou a esse fato para representar em cada página a personagem fazendo um passo de balé. Isso já começa na capa do livro e se estende até o final. O representar do caminhar é feito com um passo de balé, o pular de uma poça dágua foi usado como deixa para mais uma representação de um passo de dança, a espera na fila do pão inspirou a representação de um plié.
Meia Curta é uma história que parte do simples e trás com bastante força, leveza e diversão uma história sobre autoestima, personalidade e humor. Assim como muitas histórias publicadas pela Mazza Edições consegue levar discussões sobre representatividade para nossas crianças primando pela qualidade, que é algo fundamental para qualquer gênero literário. Lembrando que é uma história sobre como a meia curta salvou a vida de uma menina e você terá que ler o livro para descobrir.
Encontre seu livro no site da editora: http://www.mazzaedicoes.com.br/
Ahhh! Já quero esse livro para ler com meus alunos!!!!
ResponderExcluirAhhh! Já quero esse livro para ler com meus alunos!!!!
ResponderExcluir