Uma escuridão bonita do Ondjaki (Pallas Editora, 2015) é um livro que transborda poesia. Já sabemos que essa é uma forte característica desse escritor angolano que nesse trabalho fez uma dobradinha incrível com o ilustrador de Portugal António Jorge Gonçalves. Esses dois artistas acumulam os mais importantes prêmios da área de literatura e "Uma escuridão bonita" mostra o porque disso.


O livro parte da narrativa de uma noite em uma cidade sem luz. Aqueles momentos onde a luz acaba de repente. "A falta de luz também inventava mais tempo para as pessoas estarem juntas, devagar." e devagar uma escrita delicada e com olhos de ver, mesmo na escuridão, vai desnudando as intenções das personagens, as estratégias das histórias que contamos no escuro, o se dedicar a uma conversa, a descoberta de novos sentidos quando não se tem luz e precisamos sentar na espera.

As formas como Ondjaki brinca com as palavras é o toque que nos faz entrar nessa escuridão bonita de cabeça e relembrar muitas histórias de quando faltava luz, pois, "quando somos crianças, o mundo fica bonito de repente."


As ilustrações de António Jorge são um deleite a cada página. A estratégia que ele encontrou para representar o escuro se faz tão poética quanto a escrita para esse projeto gráfico. Temos muitos fragmentos em branco sob papel totalmente preto, como representações do que é possível enxergar no escuro e páginas onde apenas o preto já é a própria ilustração. É um livro que fala sobre escuridão como aprimoramento do ver, do enxergar. É um livro sobre conquista, descoberta do amor e um beijo.