Todas as primaveras em mim de Deh Mussulini (Editora Luas, 2019) é um livro de poesias que marca a estréia de Deh como escritora e também a primeira publicação da editora. É a estréia de Deh Mussulini no que se refere a formato livro, mas a escrita já permeia sua vida a muitos anos, pois é também cantora e compositora e a música nada mais é (em muitos casos) que poesia cantada. A ilustradora Karla Ruas arremata o universo criado pela escritora com muita sensibilidade e destacando elementos que são muito fortes no livro.


Todas as primaveras em mim é quase que um mapeamento da autora do livro do dedo do pé ao fio de cabelo. A própria organização da obra já nos dá uma mostra do que está por vir. A publicação está dividida em séries: deusas; eu; natureza; luas. Nessa estrutura Deh fala muito sobre si e ao falar sobre si fala sobre a condição das mulheres.

"Confesso:
Me sinto 10 mil. 10 mil mulheres. 10 mil nomes. 10 mil seios. Cada mulher que cruzo na rua, sou eu também..." aparece quase que como um grito em um texto escrito logo após sabermos do assassinato brutal de Marielle Franco.


A celebração do feminino em suas conquistas, dores e diversidade está presente em todas as séries, onde conclama que "a revolução virá pelo vente!", e especificamente na série Deusas é emocionante como a autora explora a representação das deusas de diversas culturas para além de uma espiritualidade hegemônica, que sacraliza algumas deusas e demoniza outras. Aqui tem espaço para exaltação da força imagética e espiritual das entidades femininas que são convocadas pela oralidade e pela escrita.

Deh apresenta sem medo suas crenças, suas dúvidas, suas lutas, seu olhar sobre as sexualidades, a maternidade e o afeto como se tivesse com uma lupa, que brinca de virar de um lado e depois para o outro para poder se mostrar de perto e se aproximar dos outros também.