Esse tal de amor e outros sentimentos cruéis de Mário Bortolotto (Editora Reformatório, 2015) é um livro de crônicas extremamente confessionais. Bertolotto conta diversas passagens isoladas de sua vida como pai, filho, irmão, escritor, beberrão convicto, dramaturgo, ator, diretor de teatro, músico tendo a rebeldia como sobrenome de cada uma dessas "ocupações".


A escrita de Mário é direta, muitas vezes bem crua e direto ao ponto. Algumas passagens poderiam ser daquelas conversas que a gente tem com um amigo numa mesa de bar depois de tomar umas. Essas características aproximam escritor e leitor, pois tem ali uma carga de entrega e verdade que diverte e também emociona.

O escritor não tem medo de expor dores, erros, abandonos, violências e de forma quase descompromissada vai mostrando pra gente como essas experiências reverberaram em sua vida. Mário divide com a gente desde o susto de uma primeira ereção (ninguém fala disso mas é uma experiência que pode ser assustadora), até a dor da perda de um amigo. Muitos textos são de despedida ou de desabafo para amigos que se foram ou que perdera contato.


É que na verdade eu sou o tipo de cara que nunca pensou em atravessar a rua. Eu tenho a certeza que vai ser sempre assim. As do outro lado, apenas aceno sem muito entusiasmo. Se eu não encontrá-los mais por aí, não vou sentir falta.

É um livro divertido de ler. É um livro que lembra muito o universo de Bukowski, que pode ser descoberto enquanto escuta um álbum do Tom Waits, que tem cheiro de Whisky e aura de mesa de bar.