O resto é silêncio de Augusto Monterroso (Novo Século Editora, 2011) editado pela primeira vez em 1978 foi minha incursão pela literatura de Honduras. Monterroso nasceu na cidade de Tegucigalpa em Honduras, no ano de 1921 e passou a infância e juventude na Guatemala.Passou muitos anos exilado no México e faleceu em 2003, deixando uma obra rica e premiada que também lhe conferiu o título de mestre da minificção.



O resto é silêncio é um livro muito diferente e ousado, tanto pela sua proposta como pela sua estrutura. Augusto criou uma personagem principal e uma cidade fictícia que se entrelaçam e parecem ser a veia de sustentação de ambos. Eduardo Torres é uma espécie de Conselheiro Acácio latino-americano, um intelectual excêntrico da pequena província de San Blaas, nosso segundo personagem. Os habitantes de San Blaas vivem a sombra de seu morador ilustre e E. Torres usa a cidade, suas histórias e suas relações como instrumento de escrita e com uma ironia afiada que desperta diferentes reações.

Sendo assim o livro se estrutura como se fosse uma biografia de E.Torres escrita por terceiros. Possui quatro testemunhos de pessoas próximas a Eduardo e mais um testemunho de um amigo anônimo. Em todos os textos salta aos olhos o caráter contraditório e excêntrico do intelectual que em certo ponto chegam a defini-lo como "um espírito grosseiro, um humorista, um sábio ou um tonto”.


Em nenhum momento do livro sabemos onde exatamente se situa a cidade de San Blaas mas através de suas características é bem possível fazer um desenho de qualquer lugarejo tradicional com pessoas tradicionais e regidas pelo bucólico. É possível também perceber a intenção da obra de satirizar o ambiente e as relações livrescas com toda sua empáfia e orgulho arraigados. E não deixa também de ser uma crítica e um registro sobre a cultura hispânica.