Casa do Mário Alex Rosa (Impressões de Minas, 2020) é um livro de poesias que foi concebido durante o período de isolamento social da pandemia. Ele parte desse lugar da casa, que é carregado de simbologias que remetem a repouso e proteção e que depois da pandemia foram mais acentuados, uma vez que a necessidade de proteção ganhara nome e sintomas. Mário esquadrinha os cinco cômodos principais de uma casa convencional, então o livro é dividido em cinco sessões denominadas sala, cozinha, área de serviço, quarto, banheiro.
O livro é um exemplo de exercício de escrita, pois percebemos que o projeto de Mário Alex seguiu as exigências do seu processo criativo, mas também a uma estrutura muito bem fundamentada que conseguiu transformar o objeto livro em morada. O projeto gráfico de Elza Silveira, com desenhos de João Diniz e Ronald Polito transformam “Casa” naqueles livros que já ganha o leitor pela capa.
Enquanto caminha por cada um dos cômodos, o autor exercita seu poder de observação, onde sons tão íntimos de uma moradia são dotados de um significado maior e ocupam seu lugar de familiaridade dentro de uma casa, como em “mesa posta/caderno sozinho/ouve pingo no filtro” e em “no bico do bule/assobia/água fervendo”. São dois exemplos de como os textos curtos do autor, evocam barulhos que de tão cotidianos soam quase escondidos da nossa percepção e como uma breve descrição dos mesmos tem o poder de nos localizar geograficamente no mapa de uma casa.
Mario Alex exalta sons, imagens, texturas e cheiros que fazem parte de uma casa de tal maneira que o percebemos transformar o processo de reclusão em observação. Todo o livro é um olhar de dentro pra dentro e nos faz perceber a casa, a morada e a si próprio com um olhar diferente para o óbvio essencial, como no poema que diz “no espelho/a solidão/é de dois”.
A obra que Mario Alex chama de “casa-livro” explora as nossas ações diárias, que beira o ritualismo, e que por sua própria existência demonstra como nossa casa se torna uma extensão de quem somos, do que sentimos e que materializam também as mudanças de ciclos da vida, como na sessão área de serviço: “estendida no varal/ a roupa espera/ uma nova era” e no poema que diz “recolher o lixo/ do que foi o dia/ renovação garantida”.
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