Verões Felizes: senhorita estérel de Zidrou e Jordi Lafebre (SESI-SP, 2018) é o terceiro volume da série da família Faldérault. O tema central dos quadrinhos são os momentos de férias da família em anos diferentes e a cada volume, vamos conhecendo mais detalhes sobre a intimidade de cada um deles, seus afetos, seus sonhos, personalidades e a própria formação da família. Nesse volume, são apresentados novos personagens, enquanto outros (já vistos nos demais volumes) ainda nem eram nascidos. Divertidamente, um dos personagens em destaque é “senhorita estérel”, o carro vermelho que acompanha a família em todas as viagens.


No primeiro volume são relatados os acontecimentos de uma viagem de férias do ano de 1973. Até então não sabíamos, mas esse seria o tempo presente da história dos Faldérault. A família completa, com Pierre, Margô e seus quatro filhos. No segundo volume temos um retorno ao passado, exatamente aos anos de 1969 e a última das crianças ainda no ventre de Margô. O terceiro volume se passa no verão de 1962. Pierre e Margô tem apenas as duas filhas mais velhas e viajam acompanhados também dos pais de Margô.

Pierre e Margô são jovens e já apresentam sinais da personalidade que tanto nos diverte nos demais volumes. Com o aproximar das férias, percebemos a vontade dos dois de cair em uma verdadeira aventura, com direito a acampamento e pernoite em barracas, mas a presença dos pais de Margô invalida essa vontade.


O quadrinho segue na mesma linha dos demais, dedicado a não tratar de grandes dores, nem grandes tragédias e partir apenas do que é do campo dos afetos e da felicidade. O texto de Zidrou consegue manter esse propósito mesmo ao confrontar as personalidades díspares dos pais de Margô.

Enquanto o pai de Margô é leve, engraçado e afetuoso, a mãe é uma mulher mais sisuda, metódica e prática, a ponto de dominar toda a programação das férias. Zidrou explora essas nuances com muito humor, pois as atitudes da senhora não visam o mal de nenhum dos membros da família e só remetem a um cuidado exacerbado. Sua missão em evitar que o marido idoso coma batatas fritas, por causa do coração, é uma das piadas mais engraçadas da história e promove acontecimentos hilários.

Zidrou e Jordi Lafebre mais uma vez colocam o cotidiano no palco e com cores vivas, afeto e poesia. Conseguem olhar para o cotidiano com olhos de devoção e nada mais que bonito que saber olhar profundamente até para aquilo que já foi banalizado e que as vezes passa por nós sem ser visto por estarmos esperando um milagre.