As sete irmãs: a história de Maia da Lucinda Riley (Editora Arqueiro, 2016) é o primeiro volume de uma série de sete livros que conta a história de uma família formada através da adoção. Cada livro se dedica à história de uma das irmãs, colocando-as como narradoras dos acontecimentos. Maia, Ally (Alcíone), Estrela (Astérope), Ceci (Celeno), Tiggy (Taígeta) e Electra foram adotadas em momentos diferentes da vida pelo misterioso Pa Salt e seu falecimento repentino faz com que as meninas, agora mulheres, se juntem novamente em Atlantis, mansão onde foram criadas, para uma tentativa de despedida. Existe um mistério sobre a sétima irmã que até então nunca se juntara as demais - Mérope (a irmã desaparecida). Juntas, elas descobrem que Pa Salt deixou uma carta e uma pista para cada uma delas sobre suas famílias biológicas e o lugar de onde vieram. A partir daí embarcamos na busca das origens de Maia, a irmã mais velha, que até então não sabia que nascera no Brasil.
Sabendo da faceta mais introspectiva e reclusa de Maia, uma das provocações deixadas na carta de Pa Salt foi o desafio para que Maia enfrentasse seus medos. Movida por um rompante ela embarca para o Rio de Janeiro e aos poucos vai conhecendo as minúcias do país que nascera. Maia não só nasceu no Rio como sua família de origem foi uma das mais prestigiadas em uma época onde produção de café e administração de fazendas gerava um estilo de vida digno de reis e rainhas. Quando chega à casa que pertencera a seus antepassados, Maia encontra um casarão decrépito e já sem o brilho dos anos de glória.
Maia encontra no Rio de Janeiro o apoio de um escritor e historiador chamado Florentino. Eles já se conheciam, pois Maia havia traduzido um de seus livros para o francês. Com os elementos coletados por Maia e o conhecimento histórico e local de Florentino, os dois embarcam em uma viagem pela cidade do Rio atual e do Rio de aproximadamente cem anos atrás. É quando conhecemos a história de amor de Izabela Bonifácio, bisavó de Maia, e Laurent Brouilly, um escultor francês que participou da confecção do Cristo Redentor. Uma história de amor que irá mudar para sempre o rumo da família de Maia.
Com uma trama que carrega elementos já conhecidos de diversas outras histórias como o amor impossível, as amarras de um contexto social conservador e outros clichês, o livro ganha corpo e consistência ao apostar em uma narrativa que viaja no tempo para investigar a história de uma família, ao explorar elementos místicos relacionados aos mitos e lendas da constelação das plêiades e que dão nome a cada uma das irmãs, ao transformar o pai adotivo em uma figura onipotente e onipresente com muitos segredos, ao criar uma história paralela à construção do Cristo Redentor, um dos maiores símbolos do Brasil e uma das novas sete maravilhas da humanidade.
Para tanto, fica nítido como Lucinda Riley executou uma cuidadosa pesquisa sobre o Brasil, o Rio de Janeiro e a construção do Cristo Redentor. Sendo uma escritora irlandesa, a gente inicia a leitura aguardando um desfile de estereótipos sobre o nosso Brasil aflorarem a cada página e não é isso o que acontece. Lucinda teve muito cuidado ao descrever nossa cultura e nossos costumes sem perder, é claro, aquele leve estranhamento estrangeiro em relação aos nossos costumes e mazelas que sempre nos colocam na posição de região “exótica” do planeta.
No que se refere à vinculação com a construção do Cristo Redentor, toda a obra se passa em torno desse acontecimento. O Cristo tem importância tanto para a ambientação da história no Brasil como para o desenrolar da trama. Os personagens principais estão totalmente envolvidos no projeto do Cristo e parte de um grande segredo de família também se vincula ao processo de lapidação da estátua.
“A história de Maia” é também um romance histórico. Lucinda misturou personagens reais com personagens fictícios e conta uma parte da história do Rio de Janeiro. Estão lá figuras como Heitor da Silva Costa, arquiteto e engenheiro do Cristo Redentor e Paul Landowski o escultor francês que modelou as peças que compõem a estátua. A escritora Lucia Machado de Almeida é citada por diversas vezes durante a obra e sua filha, a Margarida de Lopes Almeida, foi transformada em uma personagem de atuação fundamental no livro como uma das amigas da bisavô de Maia. O parque Lage como presente de amor de Henrique Lage para a cantora lírica Gabriella Besanzoni também é um fato citado no livro, sendo que parte da história se passa exatamente na época.
A saga familiar da Lucinda foi uma grata surpresa. Consegui me envolver na história que tem uma trama bem construída e personagens interessantes. A gente acaba sendo movido pela curiosidade do olhar estrangeiro sobre o Brasil e sente a vontade de aprofundar em algumas particularidades sobre a cidade do Rio de Janeiro e também do contexto histórico do Cristo Redentor. É nítida a admiração e respeito que Lucinda Riley tinha pelo Brasil.
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