Minha juventude é um drama chinês de 2019 disponível na Netflix que acompanha de perto a vida de seis amigos desde o começo da adolescência até o início da vida adulta. É uma história de formação que discute sobre os principais desafios que enfrentamos na vida e como as nossas experiências e sonhos vão ajudando a formar nossa personalidade e nosso caráter. Su Can Can (Li Jia Qi) é uma garota sonhadora e engraçada que gosta muito de escrever. Junto com sua amiga Xu Mei Li (Stephanie Xu) são responsáveis pelas passagens mais divertidas da série. Através do olhar de Su Can Can acompanhamos uma história sobre relação familiar, com os professores, com os colegas de escola, sobre a emoção do primeiro amor, a aflição dos dias de prova, a aproximação do vestibular, o desafio de escolher um curso, o afastamento da família de origem para construir uma carreira, a busca pelo primeiro emprego e as diversas aproximações e afastamentos que são consequências da vida.
Su Can Can, a protagonista da série, é apaixonada a muitos anos pelo Lin Jia Ze (Li Ge Yang) que é o garoto mais popular da escola, considerado o mais bonito, um exemplo pelas boas notas, pela aptidão para a música e os esportes. A garota tem muita dificuldade de se declarar para o rapaz que acaba não percebendo suas intenções. Com isso, o destino acaba fazendo com que os caminhos de Su Can Can esbarre com o de Lan Tian Ye (Zhao Yi Qin) que é primo e melhor amigo de Lin Jia Ze. Vários acontecimentos acabam promovendo encontros entre Can Can e Jia Ze, que inicialmente mais brigam do que conversam. Ainda assim, esses encontros fazem com que Lin Jia Ze acredite que Can Can está apaixonada por Lan Tian Ye.
Lan Tian Ye é um garoto mais recluso e quase antissocial. Seu jeito de falar e de se portar acabam passando a ideia de que ele é daqueles garotos encrenqueiros que praticam bullying e causa confusões na escola, mas Tian Ye é o contrário do que aparenta. É apenas um rapaz com um grau de rebeldia comum na fase da adolescência, e apesar de sua dificuldade em expressar sentimentos é um garoto muito sensível, inteligente e quase um gênio da matemática. Tanto Tian Ye quanto seu primo estudam música, sendo o primeiro apaixonado por violão e canto e o segundo um grande pianista.
Su Can Can e Xu Mei Li |
No núcleo principal ainda temos a Tao Ya Ting (Wu Shuang Yi) que é prima de Can Can. Inicialmente Can Can e Xue Mei Li não simpatizam muito com a garota, que apesar de ser uma das mais inteligentes da escola, possui uma personalidade extremamente reservada por conta de uma crise que seus pais estão passando no casamento. Tao Ya Ting fica muito tempo sem ver a mãe e acaba dedicando seu tempo aos estudos como uma forma de escapismo. A relação entre as meninas vai se modificando aos poucos, a medida que vão amadurecendo.
Apesar dos diversos planos criados por Can Can e Xu Mei Li para que ela se aproximasse do seu amor de longa data, os acontecimentos vão fazendo com que cada vez mais Can Can se aproxime de Lan Tian Ye. Na configuração das mesas da sala de aula, a professora decide refazer o mapa da sala e Can Can e Lan Tian Ye acabam formando uma dupla de estudos, o que aumenta o tempo que passam juntos. Apesar deles levarem muito tempo pra perceber, eles acabam sendo a dupla perfeita, pois onde está a fraqueza de um está a fortaleza do outro. Escondido em uma implicância boba, começa a nascer uma grande admiração entre eles. Em certo momento um novo professor chega e reabre a rádio da escola, o que também acaba reunindo os amigos em um mesmo projeto e fortalecendo um vínculo que vai se estender até a vida adulta.
Minha juventude é uma série leve e muito gostosa de assistir. Toda a beleza da história está na exploração do cotidiano, nas descobertas que vamos fazendo no ambiente escolar, no enfrentamento das questões que parecem o fim do mundo quando somos adolescentes. É interessante que mesmo sendo uma história que trás um contexto de um país tão diverso do nosso como é a China, acabamos nos identificando com muitas questões da adolescência e juventude que são universais.
No fim do ensino médio os jovens precisam escolher a área de estudo que irão se dedicar e nesse momento a série faz uma ótima discussão sobre essa fase tão importante. Na China, os adolescentes precisam se decidir, no último ano do ensino médio, se vão seguir a linha de estudo das ciências humanas ou das exatas e todas as matérias se voltam para essa escolha. Fiquei surpreso ao perceber que lá do outro lado do mundo os mesmos preconceitos acabam surgindo em relação a essa escolha. Os pais de alguns personagens, fazem questão de que os filhos escolham as matérias de exatas por acreditarem que terão uma carreira de sucesso e que humanas é coisa de quem vai passar dificuldade para o resto da vida. A personagem Su Can Can faz um lindo discurso em defesa das matérias de humanas e de como elas são necessárias para entendermos a sociedade. No episódio cinco tem uma cena onde Su Can Can defende Lan Tian Ye diante do pai dele e dos professores que estavam questionando sua escolha por estudar ciências humanas mesmo sendo um gênio nas exatas. Ela diz:
Eu acho bom estudar artes liberais. Podemos aprender mais sobre o mundo. Podemos aprender sobre a história da sociedade humana e sobre os padrões de desenvolvimento da humanidade. Podemos olhar para a sociedade com uma abordagem macro. Humanas e ciências sociais são mais úteis do que pensam. Quanto mais a tecnologia avança, mais indispensáveis elas se tornam. A melhor motivação para aprender é o interesse.
Lan Tian Ye e Su Can Can |
O grupo de amigos termina o ensino médio e antes de irem para suas respectivas universidades se juntam para enterrarem objetos pessoais importantes para cada um com objetivo de desenterrarem dali a alguns anos. A história então passa a acompanhar a vida dos seis amigos na universidade. Alguns deles vão parar na mesma universidade e os que não foram acabam dando um jeito de sempre se encontrarem para confraternizar. Nessa fase Lan Tian Ye e Lin Jia Ze já se perceberam apaixonados por Su Can Can e ao se verem diante de um triângulo amoroso a amizade acaba ficando um pouco abalada.
Com muita delicadeza a série vai adentrando na intimidade de cada uma das personagens e mostrando passo a passo como cada um vai indo atrás de seus sonhos. Su Can Can vai amadurecendo e revisitando seus próprios sentimentos e perspectivas de vida. É nessa fase também que precisará tomar uma decisão complicada e que pode mudar completamente seu futuro. O nascimento de um grande amor, que talvez sempre estivesse ali, vai modificando alguns de seus planos e muitos desencontros acontecem até que a história tenha um desfecho.
É interessante também como a história faz um passeio pelas mudanças que ocorreram com as tecnologias dos anos 90 pra cá. Inicialmente vamos vendo os personagens interagindo com fitas cassete, walkman's e cd's. Aos poucos vão aparecendo os computadores como uma grande novidade, o uso de internet, celulares e existe um cuidado também com o figurino, que vai refletindo cada ano até chegar aos tempos atuais.
O dorama se debruça sobre as transformações da adolescência para a fase adulta e as nossas principais atitudes perante a bomba de emoções que essas transformações provocam. Deixa uma mensagem importante sobre individualidade, sobre como as vezes perdemos oportunidades por não conseguirmos nos expressar, sobre a necessidade de reconhecimento das próprias fragilidades para nos tornarmos mais fortes.
A história de amor é algo que acompanhamos com o coração cheio de ternura, pois a estratégia foi tratar do tema e da construção da relação dos protagonistas de forma a valorizar os mínimos detalhes do que é se apaixonar. Essa exploração dos detalhes acontece de uma forma poética que já é característica das produções asiáticas. O drama ainda nos mostra que por mais que a vida em sociedade nos obriga a seguir algumas regras e etapas que levam a vida adulta, nem sempre a vida consegue seguir um roteiro específico e no meio do caminho pode aparecer uma curva. Mostra que nem todo mundo vai ficar com o grande amor da sua vida e que inclusive cada pessoa tem o seu tempo para se deixar ou não viver uma história de amor.
Dedico este texto para o Bruninho Cordeiro, que foi quem me indicou o dorama e com quem tive ótimas conversas sobre vidas e amores enquanto assistia.
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