Cléo e Daniel do Roberto Freire é uma leitura muito forte. A forma como somos apresentados aos personagens é muito interessante. A sensação é a de viver numa sociedade onde não se tem filtros, e portanto, medo, angústia, violência, amores, vícios, desejo sexual são escancarados, expostos dando ao leitor a missão do que fazer com aquilo. Para um livro lançado em plena ditadura militar, diria que é uma leitura muito ousada e que talvez tenha burlado a censura por conta de seu título que sugere uma história de amor água com açúcar.


Roberto Freire vai nos apresentado às histórias através da ótica de um narrador que é psicanalista e fazendo com que a gente estabeleça links com muitas coisas que colocamos escondidas debaixo do travesseiro. É um livro cheio de perguntas - daquelas que vão devassando a própria existência, o porque de fazermos o que fazemos, de nos sujeitar ao que nos sujeitamos seja na base do instinto ou na busca irrefreável pelo amor e pela paz.


A ilusão de amar. Porque a vida humana é essa imensa e grotesca caçada: cada homem tentando alcançar o germe de amor que há no outro, para aprisioná-lo, feri-lo, matá-lo. Por isso fazem-se amigos, parceiros, parentes, amantes, sócios. Porque é preciso estar mais próximo, mais ao alcance do ódio, mais perto da ilusão de amor do outro. Para a ceva, para o bote, para o crime. A humanidade é o resultado dessa caçada. Os homens estão vivos, mas o seu amor está morto. Assassinado. Um matou a possibilidade de amor no outro. A lei é essa mesma: amor por amor, para que não haja amor.

Loucura e sanidade andam de mãos dadas e no fim não sabemos mais distinguir diferença entre vida e morte.